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Andava eu a forrar o chão com jornais velhos - preparava-me para pintar janelas com tinta esmalte - quando se me depara este poema de Wislawa Szymborska num jornal Público de Fevereiro 2012.
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Não, felizmente eu não morri. Mas ausento-me tantas vezes de casa, deixando o Néguy sozinho, que, ao lê-lo, me pus a pensar que se passará com o meu gato quando o deixo no apartamento sozinho? Quando me vou embora, percebe lindamente, logo que me vê a preparar as coisas. Fica mais parado, segue-me sem agitação e vejo-lhe um olhar triste. Pelo contrário, quando chego, aparece logo, às vezes ensonado, ainda com os olhos mal abertos, espera-me à porta de casa, cheirando tudo o que trago e deitando-se depois à porta do meu quarto para lhe fazer as festas atrasadas. Mas, e pelo meio o que se terá passado?
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A tradução foi de Manuel António Pina.
GATO EM APARTAMENTO VAZIO
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Morrer não é coisa que se faça a um gato.
Que há-de um gato fazer
num apartamento vazio?
Subir às paredes?
Roçar-se nos móveis?
Aparentemente não mudou nada
e no entanto está tudo mudado.
Continua tudo no seu lugar
e no entanto está tudo fora do sítio.
E à noite a lâmpada já não está acesa.
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Ouvem-se passos nas escadas,
mas não são os mesmos.
A mão que põe o peixe no prato
também já não é a que punha.
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Há aqui qualquer coisa que já não começa
à hora do costume,
qualquer coisa que não se passa
como devia passar-se.
Havia aqui alguém que há muito estava e estava
e que de repente desapareceu
e agora insistentemente não está.
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Procurou-se em todos os armários,
revistaram-se as estantes,
espreitou-se para debaixo do tapete.
Violou-se até a proibição
de desarrumar os papéis.
Que mais se pode fazer?
Dormir e esperar.
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Quando regressar, ele vai ver,
ele vai ver quando chegar.
Vai ficar a saber
que isto não é coisa que se faça a um gato.
Caminhar-se-à em direcção a ele
como que contrariado,
devagarinho,
com patas amuadas.
E nada de saltos ou mios. Pelo menos ao princípio.
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