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UM PORMENOR DE PIERO DELLA FRANCESCA
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A forma de sinceridade requerida
é a mais extrema pobreza:
pela neve sem vincar rasto
sempre caminhou
aquele que busca um amor
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Poema - Manuel António Pina
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RUÍNAS
Por onde quer que tenha começado,
pelo corpo ou pelo sentido,
ficou tudo por fazer, o feito e o não feito,
como num sono agitado interrompido.
O teu nome tinha alturas inacessíveis
e lugares mal iluminados onde
se escondiam animais tímidos que só à noite se mostravam
e deveria talvez ter começado por aí.
Agora é tarde, do que podia
ter sido restam ruínas;
sobre elas construirei a minha igreja
como quem, ao fim do dia, volta a uma casa.
RUÍNAS
Por onde quer que tenha começado,
pelo corpo ou pelo sentido,
ficou tudo por fazer, o feito e o não feito,
como num sono agitado interrompido.
O teu nome tinha alturas inacessíveis
e lugares mal iluminados onde
se escondiam animais tímidos que só à noite se mostravam
e deveria talvez ter começado por aí.
Agora é tarde, do que podia
ter sido restam ruínas;
sobre elas construirei a minha igreja
como quem, ao fim do dia, volta a uma casa.
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
Aconteceu...ter a lua como companheira
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Vou no comboio e a tarde cai. Esta é das horas do dia que mais gosto. O céu ainda está azul, limpo mas deixou de estar brilhante, e lá mais ao longe, até onde avistamos o horizonte, uma cor rosada pintou uma barra larga no horizonte.
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Há bastante tempo que a lua, redonda, cor de pérola e brilhante nos acompanha, ora ao lado, ora à frente. De vez em quando esconde-se por detrás de umas árvores. Procuro-a com alguma ansiedade e pouco depois descubro-a com alívio.
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Quase não passamos por aldeias, como aquela onde passei muitas férias em miúda. Agora, vistas daqui, quase todas as terras têm uns prédios e em muitas uma ou outra construção desinserida da paisagem, conjuntos de cubos desalinhados em cima ou ao lado, que tanto vemos no Algarve como na zona centro por onde o comboio passa.
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E continuo a ver a lua. Hoje estão nítidas as manchas interiores. Lá na aldeia da minha infância, nestes dias procurávamos distinguir o homem ou a mulher que carregavam um grande saco. Parece que cumpriam um castigo, diziam.
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As crianças destas novas aldeias, a esta hora, olham para a televisão ou jogam algum jogo electrónico.
Desconfio que não olham a lua.
Vou no comboio e a tarde cai. Esta é das horas do dia que mais gosto. O céu ainda está azul, limpo mas deixou de estar brilhante, e lá mais ao longe, até onde avistamos o horizonte, uma cor rosada pintou uma barra larga no horizonte.
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Há bastante tempo que a lua, redonda, cor de pérola e brilhante nos acompanha, ora ao lado, ora à frente. De vez em quando esconde-se por detrás de umas árvores. Procuro-a com alguma ansiedade e pouco depois descubro-a com alívio.
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Quase não passamos por aldeias, como aquela onde passei muitas férias em miúda. Agora, vistas daqui, quase todas as terras têm uns prédios e em muitas uma ou outra construção desinserida da paisagem, conjuntos de cubos desalinhados em cima ou ao lado, que tanto vemos no Algarve como na zona centro por onde o comboio passa.
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E continuo a ver a lua. Hoje estão nítidas as manchas interiores. Lá na aldeia da minha infância, nestes dias procurávamos distinguir o homem ou a mulher que carregavam um grande saco. Parece que cumpriam um castigo, diziam.
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As crianças destas novas aldeias, a esta hora, olham para a televisão ou jogam algum jogo electrónico.
Desconfio que não olham a lua.
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lembranças e recordações,
lua cheia,
novos tempos
domingo, 1 de janeiro de 2012
Poema - Carlos Drummond de Andrade
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Não precisa chorar de arrependimento
pelas besteiras consumadas nem
parvamente acreditar que por decreto
da esperança a partir de Janeiro
as coisas mudem e seja claridade,
recompensa, justiça entre os homens
e as nações, liberdade com cheiro e
gosto de pão matinal, direitos respeitados,
começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano novo que mereça
este nome, você, meu caro, tem de
merecê-lo, tem de fazê-lo novo,
Eu sei que não é fácil mas tente,
experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
RECEITA DE ANO NOVO
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Para você ganhar belíssimo Ano Novo...
Não precisa fazer lista de boas
intenções para arquivá-las
na Gaveta.
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Para você ganhar belíssimo Ano Novo...
Não precisa fazer lista de boas
intenções para arquivá-las
na Gaveta.
Não precisa chorar de arrependimento
pelas besteiras consumadas nem
parvamente acreditar que por decreto
da esperança a partir de Janeiro
as coisas mudem e seja claridade,
recompensa, justiça entre os homens
e as nações, liberdade com cheiro e
gosto de pão matinal, direitos respeitados,
começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano novo que mereça
este nome, você, meu caro, tem de
merecê-lo, tem de fazê-lo novo,
Eu sei que não é fácil mas tente,
experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
sábado, 31 de dezembro de 2011
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
Aconteceu...na esteira do filme "O Miúdo da Bicicleta"
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Poucos minutos depois de começar o filme lembrei-me dela. Que será feito daquela miúda, hoje adolescente crescida?
.Poucos minutos depois de começar o filme lembrei-me dela. Que será feito daquela miúda, hoje adolescente crescida?
A mãe, toxicodependente e prostituta, tinha morrido de SIDA. O pai, imaturo e sem laços seguros com a filha, rejeitou-a colocando-a em casa dos avós. Tentaram os maternos e os paternos mas ela fugia sempre à procura dos pais.
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Foi então colocada em várias instituições, e de todas fugia. De camionete ou de comboio, era sempre encontrada só, mas em sítios onde estivera com os pais, a quem, idealizando, tudo perdoava.
..Ao contrário de Samantha, personagem do filme "O Miúdo da Bicicleta", que lutou por criar vínculo, dando amor e contenção, ela andou em vários centros de acolhimento, cortando quaisquer laços criados.
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Acompanhei-a ao longo deste atribulado percurso, tentando ser uma âncora. Mas o caminho deixou de ter retorno e a entrada no perigo foi inevitável..
Absentismo escolar, integração em grupos de jovens da rua, esse foi o seu destino. Era encontrada em muito mau estado, levada de volta para a instituição, mas nesse mesmo dia conseguia fugir.
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Terá sido essa a forma de "se encontrar" com a mãe?
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O fim do filme permite imaginar um final feliz...será?.
O filme não nos dá a conhecer as motivações da Samantha, que o acolhe e mantém, mesmo que para isso tenha de se separar do seu namorado.
E já agora, quais as motivações dos Irmãos Dardenne, que têm vários filmes deste teor?
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Irmãos Dardenne,
O Miúdo da bicicleta
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