quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Aconteceu...no dia em que Gonçalo Ribeiro Telles foi homenageado

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Lisboa, 2ª circular, o dia a despedir-se e a cruzar-se com a noite que desce.
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Velocidade do carro 30 km/h. Mais uns metros e o carro começa a andar mais devagar, e ainda mais até que pára juntando-se à fila da qual se já não vê o fim.
É assim todos os dias e quase a todas as horas.
Podia ser uma maçada estar ali parada. De manhã, atarefada e com horas a cumprir é aborrecido. Mas agora...
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Estou virada para Monsanto. Ao longe , os edifícios das Torres de Lisboa e de Benfica ficam uns paralelepípedos negros. Ao fundo um céu a escurecer, e umas nuvens discretas como se fossem manchas de aguarela.
As luzes dos faróis traseiros, vermelhas, enchem as várias faixas de automóveis, criando riscos intermitentes. Do outro lado são as brancas dos faróis dianteiros.
Gosto de olhar as manchas que se vêem da cidade, as algumas poucas luzes já acesas nalguns prédios, gosto de olhar e fantasiar, imaginar histórias que se estarão a passar ou melhor poderiam estar a passar-se ou que até nunca poderão existir. Não dou pelo tempo.
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E sem me dar conta, envolta nos meus pensamentos-sonhos chego a casa.

E então pensei no Duarte e em tantos outros entusiastas da ecologia, do transporte em bicicleta, a pé, de comboio. Aquele meu tempo de sonho é poluente. Desculpo-me com o facto do percurso ser curto. 3 km de isolamento egoísta.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Poema - Álvaro de Campos

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"Já somos sisudos, tristes, e pobres. Como ficaremos?". Assim acabava o texto do feriado finado. Agora já sei na pele uma das respostas possíveis.
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TENHO UMA GRANDE CONSTIPAÇÃO
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Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem
espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor.
O que fui outrora foi um desejo; partiu-se.
Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando.
Não estarei bem se não me deitar na cama.
Nunca estive bem senão deitando-me no universo.

Excusez un peu... Que grande constipação física!
Preciso de verdade e da aspirina.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Aconteceu...Paz à sua alma!

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Aproveito hoje o último feriado a 1 de Dezembro. O governo português assim o decretou.
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Nos próximos dois anos não se irá notar a ausência de feriados, pois quer em 2012 como em 2013, o 1º de Dezembro cairá ao fim de semana.

Claro que há sempre o risco de nos tirarem o fim de semana, ou um dos seus dias.

Um disparate se julgam que estas horas são preciosas para o trabalho/rendimento! (deixo de lado a importância de homenagear certos acontecimentos/datas)

Mas, o mais importante para mim, é o incentivo de trabalhar e depois poder descansar, desintoxicar, libertar e tentar lutar contra a depressão que nos invade dia a dia.

Dizem que há muitos feriados, o que não é verdade comparado com outros países da Europa.
Já somos sisudos, tristes, e pobres. Como ficaremos?

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

domingo, 27 de novembro de 2011

Poema - Ricardo Reis

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CADA COISA A SEU TEMPO TEM SEU TEMPO

Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.
Não florescem no inverno os arvoredos,
Nem pela primavera
Têm branco frio os campos.

À noite, que entra, não pertence, Lídia,
O mesmo ardor que o dia nos pedia.
Com mais sossego amemos
A nossa incerta vida.

À lareira, cansados não da obra
Mas porque a hora é a hora dos cansaços,
Não puxemos a voz
Acima de um segredo,

E casuais, interrompidas, sejam
Nossas palavras de reminiscência
(Não para mais nos serve
A negra ida do Sol) —

Pouco a pouco o passado recordemos
E as histórias contadas no passado
Agora duas vezes
Histórias, que nos falem

Das flores que na nossa infância ida
Com outra consciência nós colhíamos
E sob uma outra espécie
De olhar lançado ao mundo.


E assim, Lídia, à lareira, como estando,
Deuses lares, ali na eternidade,
Como quem compõe roupas
O outrora compúnhamos

Nesse desassossego que o descanso
Nos traz às vidas quando só pensamos
Naquilo que já fomos,
E há só noite lá fora.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Aconteceu...regresso à lareira

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Há épocas da vida em que gostamos de certas coisas. Depois deixamos de gostar e mais tarde, muitas vezes gostamos de novo.
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Estava a pensar nas casas de aldeia onde moraram bisavós e onde em crianças gostávamos de ir.
Há décadas eram as experiências de brincar com as bonecas de pano que as vizinhas tinham, fazer cozinhados para as alimentar com aquela erva que tem uns grãos e cresce nos telhados. O ir aos figos, andar no carro puxado a animais e que partilhávamos com os recipientes que nas vindimas iam vazios e vinham cheios a caminho da adega.
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Só que estas brincadeiras, na puberdade e adolecência Deixam de ter piada. Os interesses são outros.
E um grande interregno se fez.
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Igual história se repetiu com os filhos. O automóvel já permitia passeios às praias, visitas e turismo que entusiasmavam os rapazes. Mas a idade avança e tal como à mãe na mesma idade, a aldeia desinteressou.
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E agora com os netos, recomeçará tudo de novo? A casa, triste de abandonada deve agradecer.