Gostava de poder medir o tempo, medir mesmo, dentro de mim, sem relógio nem calendários, sem fitinhas do dedo anti-esquecimento, sem papelinhos colados com recados, sem telefonemas para me lembrarem as coisas que eu não me lembro... gostava de ter tudo isso dentro de mim, sem esforço, sem peso, sem esquecimento.
Mas não, sou imensamente desregulada nas datas, nas marcas de que me tenho de lembrar e me esqueço sempre na hora.
Uso truques, anoto na agenda do serviço, na da casa, em papéis junto ao meu lugar na sala, no post-it do écran do computador e nos últimos anos, no telemóvel.
Um destes dias carreguei num botão do meu Samsung e apaguei inadvertidamente todas as anotações cuidadosamente marcadas no calendário. Foi assim como se uma súbita rabanada de vento me tivesse virado ao contrário, de tal forma que eu deixava de saber onde estava o chão. E de gatas, em cima dele, tacteava com as mãos para o encontrar.
E o pior é que todas as anotações feitas nos outros sítios, certamente por solidariedade, desapareceram também.
Ando agora, penosamente, a refazer o perdido.
Só que o tempo voa, voa levemente mas rápido e já deve estar longe, muito longe.
Não sei nos voltaremos a encontrar.