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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Aconteceu...numa esplanada

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Fiz com a minha mãe, desde que me lembro, um exercício criativo que nos divertia imenso. Sentadas numa esplanada ou noutro lugar público, elegiamos uma das pessoas que nos rodeava e inventávamos-lhe a "sua" história. Tirávamos-lhe a "fotografia" e imaginávamos como ela seria, como teria sido, qual a profissão, a vida familiar, e até o feitio. Às vezes um futuro. Este jogo dava-nos um enorme prazer e uma grande cumplicidade. Nesta invenção, muito de projectivo era lá posto.
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Chamei-lhe jogo criativo. De facto já aconteceu encontrar pessoas que ficam completamente bloqueadas com ele, incapazes de criar uma personagem a partir da observação de alguém a quem se tiram algumas características.
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Também já encontrei quem ficasse escandalizado com ele, achando ser um acto de cusquice, o que não é de todo, porque se trata de fantasia.
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Mas também o acto de cusquice é em algumas situações divertidíssimo. E é cada vez mais fácil de o fazer, eu diria mesmo impossível de não o fazer. Todos os dias encontramos gente que fala alto de intimidades ao telemóvel. Ficamos a saber os problemas da família, os enganos dos vizinhos, as trapalhadas com os amigos, as gracinhas dos filhos, etc.
Há uma enorme falta de pudor com o telefone ambulante.
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Escrevo este pequeno texto numa esplanada a céu fechado num centro comercial, enquanto espero umas fotocópias.
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Não os vejo porque estão atrás de mim, mas sei que são três homens, na casa dos cinquenta/sessenta anos, que se encontraram bastante tempo depois de uma época de fadistia que viveram em comum. Estão eufóricos e dos seus telemóveis ligam para outros do mesmo grupo com quem tiveram grandes farras, passam o telefone de mão em mão e combinam encontros. Vou sabendo, por ouvir, as histórias das suas farras.
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Cusca? De todo!