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domingo, 17 de outubro de 2010

Aconteceu...falar para partilhar e pensar ou para despejar, não é a mesma coisa

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E blá blá bli, blá blá blá, a Francisca não se calava. As frases saiam, juntas umas às outras. O discurso era imparável e factual! Coisas actuais, antigas, tudo servia para ela falar. Impossível interromper, fazer um comentário, uma pergunta, um esclarecimento, aprofundar o assunto. Espera, deixa-me contar, dizia, e continuava. Ela queria era falar. Queria ou precisava?
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Um cansaço começava a invadir-me. As palavras dela começaram a misturar-se, parecia que andavam em espiral, do cocuruto da minha cabeça, desciam até quase aos pés, ia ficando pesada, perdendo o sentido às frases e um grande sono a invadir-me.
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Estamos sós naquele canto mas na sala há mais gente. Que vai observando a cena e percebendo que vou entrar num sono comatoso.
E o Pedro aproxima-se pé ante pé e senta-se ao meu lado, como que autorizando-me a adormecer.
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Não sei quanto tempo dormi.
Soube mais tarde que ela não deu pela troca de interlocutor, e continuou a falar, exactamente no mesmo ritmo e continuando no mesmo ponto onde estava quando "falava" comigo.
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Acordei. O Pedro afasta-se e a Francisca continua a falar. Depois diz-me, que bem que me soube, precisava mesmo que alguém me ouvisse.
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Falar para que alguém ouvisse, disse ela, mas deveria ter dito falar para despejar em ti algo incómodo sentia dentro dela. Por isso ficou mais aliviada. E eu cansada, o sono foi a minha salvação! Terei sonhado?