Em 1980 fui sozinha ao Brasil. Sozinha no avião, que no Rio de Janeiro tinha o meu tio António,irmão do meu pai, à minha espera e que me acompanhou na minha estadia.
O Brasil vivia então numa ditadura militar que se iniciou em 1964 e acabou em 1985.
Numa ida com ele a um barzinho, noite dentro, pedi se cantavam uma canção que eu gostava muito, escrita em 1968 e posteriormente proibida.
Vários homens levantaram-se e ficaram de guarda do lado de fora da porta. Foram tomar conta da rua, ver quem vinha e se necessário avisar para pararem de cantar.
Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores, de Geraldo Vandré, tem uma toada de hino e letra de resistência.
Foi muito emocionante, como todas as canções de resistência são, ainda mais naquela circunstância. Uma música que mais tarde foi cantada por muitos outros artistas, como pela Simone.
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Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Nas escolas nas ruas, campos, construções
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
Pelos campos há fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
E acreditam nas flores vencendo o canhão
Quase todos perdidos de armas na mão
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
Há soldados armados, amados ou não
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
De morrer pela pátria e viver sem razão
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
A certeza na frente, a história na mão
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Somos todos soldados, armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Os amores na mente, as flores no chão
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.