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Tou-tou, oiço numa voz fresca e despachada ao atender o telefone. Magda? pergunta. Sim sou eu, mas de quem será esta voz? Ela situa-me, lembrando-me que não apareci no banco apesar de avisada que lá deveria ir. Lá me justifico, peço-lhe que se identifique, diz-me fulana tal, a minha gestora de conta. E porque me continua a interpelar, a Magda quando pode passar por cá esta semana?, pergunto-lhe se nos conhecemos (lembro-me que era um homem, o meu gestor, entidade a que raramente recorro). Não, de facto não, ela foi substituir o tal já há uns meses mas eu nunca apareci por lá. Informei-a pois que, não a conhecendo, tendo eu 60 anos e sendo a primeira vez que me fala, achava completamente insólito que me tratasse pelo meu nome próprio. Resposta da lambisgóia, estou a ver que não gosta de proximidades! ao que lhe respondi que não gosto é de falta de educação e que quanto às proximidades as escolho eu própria.
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Há uns tempos, uma amiga minha, foi internada para uma cirurgia no hospital onde trabalha. Pergunta do senhor enfermeiro ao preencher o papel "como quer que lhe chamemos, D. Maria ou Sra. Silva? Surpreendida, não se reconhecendo naquela identidade e fragilizada na sua nova posição, ser doente e não médica é uma volta de 180º, lá balbuciou que há mais de 30 anos que é trabalha lá no hospital, serviço tal, e que sempre foi conhecida pela Dra. Alice.
Resultado, passou a não ser nomeada, e até a ser evitada nos trabalhos e aconchegos pelos senhores enfermeiro, que é suposto ter naquelas condições.
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São inúmeros as situações desta tentativa de igualizar o que é necessariamente, chamem o nome que chamarem, diferente.
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Frequentemente encontro, na minha vida profissional, aqueles pais que recusam que eu lhes lembro que são pais. Apressam-se a emendar-me, afirmando que são é amigos. É um trabalho que há que ter, desmistificar este receio de serem responsabilizados, orientadores dos filhos, igualizando e por vezes quase fazendo desaparecer as gerações. Por detrás está por vezes uma enorme confusão entre autoridade e autoritarismo, uma recusa de serem como sentiram os seus próprios pais e os conflitos que terão vivido.
É que criam por vezes situações de grande confusão e das quais, algumas crianças e adolescentes se ressentem.
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Não sei se irei conhecer a tal gestora de conta. Há muitos balcões e com a informatização, certamente irei a outro.