...Partir um pé, e ficar com quase todo o tempo livre.
Sentir, pensar e querer guardar.
A escrita como forma de organizar o pensamento, baú de memórias, companhia e partilha.
O Natal terá aumentado a pandemia. Ainda não se sabe bem os números certos, houve laboratórios que fecharam esta época, Natal e Ano Novo, mas espera-se um aumento de infectados, internados e quem sabe de mortos.
Tirando dois tios paternos e respectivos filhos, não tenho da minha família próxima, filhos, noras e netos, quem esteja longe. Mas tenho amigos com todos os filhos e netos emigrados e tenho assistido ao sofrimento pela ausência. Meses de ausência.
Não nos damos por isso, pela saudade, quando estamos juntos. Mais dia, menos dia, havemos de nos encontrar.
Não sei pois pelos meus próximos o que são as saudades dos filhos e netos. Relembro pela a devida distância da ausência a minha Mãe, o meu Pai e a minha Avó Materna.
A minha Mãe que ficou demenciada, terá tido saudades depois desse estado? Não, o defeito da memória não lhe ter permitido lembrar-se e ter saudades. Antes sim, de muitas coisas. Mas saudades tivemos nós de quando ela estava capaz.
Ainda bem que acabaram esta época festiva mas para mim ainda haverá outras este Janeiro.
0h05 minutos de hoje e no Governo Sombra havia uma convidada, Maria José Morgado, magistrada aposentada do Ministério Público português. Conhecida por ser uma lutadora contra o crime durante a sua vida profissional. É essa a ideia que se tem dela.
Mas não resisto a contar uma pequena história com pouco mais de 45 anos.
Eu estudante de medicina, tinha depois do 25 de Abril entrado para a UEC, União dos Estudantes Comunistas. Ela, estudante de direito, militante do MRPP, Movimento Revolucionário do Partido do Povo.
Este dois grupos frequentemente tinham guerras, mesmo fisicamente. Cozi muitas cabeças no serviço de urgência para onde acorríamos quando essas aconteciam.
Um dia, estando na sala de alunos da Faculdade, dentro do Hospital de Santa Maria em Lisboa, recebi uma ordem de uma camarada para ir despejar uma sala onde militantes do MRPP da Faculdade de Direito, ali pertinho, estavam ilegalmente.
Lá fui eu mais alguém, não me lembro quem. Sem jeito nenhum para estas coisas. Ao chegar 3 ou 4 pessoas estavam a fazer um cartaz, de joelhos no chão.
Dei o recado, a sala era dos estudantes de Medicina e não de Direito, nós íamos entrar e elas teriam de sair. Uma delas era a Maria José.
Levantou a cabeça e disse com uma convicção extrema "Só entram por cima do meu cadáver".
Não havia hipótese de conversar, só à porrada o que nunca fiz.
Voltei para cima e contei. Lá resolveram como acharam e eu não sei como foi.
Pouco tempo depois anunciei que deixaria de colaborar, não me identificava, aquilo não era para mim. E assim foi a minha breve passagem por um grupo estudantil político.
Só não passei a meia noite a dormir porque poucos minutos antes recebi um telefonema. Acordou-me mas fiquei contente por se ter lembrado de mim.
A 1ª notícia da manhã foi a morte de Carlos do Carmo. Tenho um LP que era dos meus Pais. Apreciavam-no bastante. Tinha uma forma diferente de cantar o fado, fado-canção ou canção-fado, foi ele que introduziu o novo fado, com poesias de poetas considerados e modernos. Toda a tarde a RTP passou entrevistas, espectáculos. Gostei sempre mais de o ouvir cantar do que falar. Mas ouvi uma ou outra coisa que me ajudou a perceber como teve dificuldade em se afirmar até porque era um apoiante do PCP e isso dificultou-lhe a vida até ser inegável a sua qualidade.
Tenho pena mas não sei introduzir aqui um youtube. Mas encontra-se com facilidade.
DESEJO que 2021 seja um ano de esperança, que a vacina anti covid-19 seja um sucesso!
Este ano, mais que nenhum outro, confirmei que estar sozinha não é um drama para mim. Gosto e entretenho-me bem. Um ou dois dias com maior dificuldade e a ver cinzento mas vá lá.
Foi em termos sociais e globais o pior ano que me lembro. Doentes, mortos, economia de rastos, como recomeçar?
Figura do ano para mim foi a velocidade do tempo. Nunca me lembro de um ano passar tão depressa! Certamente por ter menos memórias diferentes para o preencher, a triste rotina. Foi num instante que cheguei ao fim.
Há um ano uma amiga minha esteve vários dias internada com uma infecção. Uns dias na Cruz Vermelha e outros tantos no H Sta Maria.
Hoje sentiu os mesmos sintomas, febre alta e umas dores com edema e mancha vermelha numa parte da perna. Recorreu ao H Sta Maria onde esteve o dia inteiro, a ser observada por várias especialidades relacionadas com os sintomas.
No final, feito o diagnóstico da situação, o mesmo que da outra vez, foi informada que havia uma vaga no serviço domiciliário, ou seja, pôde ir para casa onde será acompanhada uma a duas vezes por dia por uma equipa presencial. Estou a falar do Serviço Nacional de Saúde!
Vive sozinha mas tem apoio familiar e de amigos perto.
Constantino Sakellarides que tive o prazer de o ouvir há muitos anos na equipa onde eu estava, continua a ser um grande pensador da saúde.
Saiu hoje no Diário de Notícias, novamente em papel, um artigo excelente.
Vou publicá-lo mas sei que não será lido aqui por muita gente. Mas não resisto.
Neste artigo, dividido em 8 pontos, fala da saúde mas não só. Todos são importantes mas leio no ponto 6 isto "Na administração pública, temos uma primeira linha que acorre ao imediato, mas falta-nos uma segunda linha que pense o país, mais à distância. Prospectivamente, com análise e planeamento estratégico. Para não chegarmos ao futuro tarde e mal preparados, precisamos de começar de facto a pensá-lo, não ocasionalmente, mas contínua e sistematicamente."
Sim, a Senhora Ministra da Saúde tem sido uma formiguinha no combate à pandemia, mas desde que foi nomeada duvidei da sua capacidade de pensar mais além.
Vale a pena ler o artigo todo!
Saúde 2021. Regressar ao futuro?
1- Inverno. É o inverno mais longo. Ao telefone soubemos que morreu um amigo. Quarenta dias de internamento e sofrimentos. Faz-nos falta. E logo, no noticiário da noite: em Setúbal há pessoas que não têm como comprar para comer. É a fome com a vergonha de pedir. À última hora: uma nova variante do malfadado vírus. Uma ameaça mais? E um toque no WhatsApp: no condomínio de 32, "algumas pessoas estão a atingir os limites" - temos de conversar! A vacina chegou, que bom, mas a seu ritmo. A distância protegida continuará como a solução possível, verão adentro. Resistiremos.
2 - Pandemia destapou. A pandemia destapou crónicas limitações nas nossas instituições, comportamentos e formas de governação: respondemos com grande dificuldade aos desafios do envelhecimento. Em parte, porque o SNS não deu ainda o salto qualitativo necessário para superar a sua fragmentação original e gerir bem os percursos das pessoas através dos cuidados de que necessitam. Mas também porque nos faltam políticas e orçamentos de bem-estar que articulem a ação dos vários setores para um mesmo fim; sem uma "política para as profissões da saúde", estas continuarão a abandonar, crescentemente, o SNS; na saúde pública, à sua versão centralista, normativa e autoritária, igual para todos, que apela à obediência, é necessário acrescentar melhor aquela outra que descentraliza, informa e diferencia localmente, que conta com as pessoas e apela à sua inteligência; fazemos planos de "inverno" ou de "vacinação" que não são acompanhados de quaisquer referências à base científica das opções adotadas.
3 - Oportunidade de desenvolvimento. Não podemos simplesmente esperar pelo verão, sem mais. Queremos começar a recuperar o que perdemos, mas fazê-lo regressando ao futuro. Há 20 anos numa "classificação" envolvendo os sistemas de saúde de todos os países do mundo, promovida pela OMS, ficámos em 12.º lugar. De notar, no entanto, que o índice adotado para comparar desempenhos entre países foi ajustado em função da escolaridade e da capacidade em criar riqueza da parte de cada país. Não tínhamos, propriamente, o 12.º melhor sistema de saúde mundo - o que a análise nos disse foi que, comparativamente, o desempenho na saúde em Portugal excedia o que seria de esperar face ao grau de desenvolvimento do país. Dificilmente poderíamos fazer muito melhor na saúde, se o país não progredisse no seu desenvolvimento económico, social e cultural.
4 - Modelo de governação. Somos capazes, nas diversas dimensões da nossa casa comum, de lidar produtivamente com o desassossego que este desnudar de fragilidades nos traz? Será possível sustentar um sobressalto criativo, para regressar ao futuro, ou começámos já a soterrar apressadamente os incómodos que a pandemia destapou?
Talvez o que mais está em causa seja um modelo de governação, que temos desde há décadas. A extrema complexidade dos desafios habituais ou extraordinários da saúde expõem com suficiente clareza a grande insuficiência do atual modelo: ministro-secretários-diretores-reúnem-despacham-mandam-fazer. Em círculo fechado. Que acrescenta e perpétua, mas não transforma. Que não aparenta cultura e instrumentos de aprendizagem.
5- Conhecimento e decisões políticas. Precisamos de uma governação mais sensível ao conhecimento - um processo de aconselhamento científico contínuo, transparente e independente dos poderes, capaz de fazer uma síntese do estado da arte e vertê-la em propostas de ação, comunicadas ao conjunto da comunidade. Por exemplo, no Reino Unido existe um grupo consultivo para emergências (SAGE) que se reúne regularmente e faz recomendações ao governo. É o SAGE. E, no entanto, um grupo prestigiado de académicos e profissionais, insatisfeito com a sua constituição e desempenho, especialmente na comunicação com o público, criou o independente-SAGE. Este promove, à distância, todas as sextas-feiras, às 13h30, uma sessão de esclarecimento público. O governo sueco projetava constituir uma comissão científica independente para avaliar a gestão da pandemia pelas autoridades, no fim da pandemia. As coisas começaram a correr mal e o governo sueco decidiu antecipar a criação dessa comissão, que emitiu agora o seu primeiro relatório. Este é severo para o governo e fez recomendações claras sobre o que é necessário mudar. Nas culturas do sul, ainda não estamos perto disso. E precisávamos.
6 - Instituições e pensamento estratégico. É necessário traduzir, conhecimento em ação. Sabemos que temos no país "múltiplas competências funcionais, mas que escasseiam capacidades institucionais essenciais". Na administração pública, temos uma primeira linha que acorre ao imediato, mas falta-nos uma segunda linha que pense o país, mais à distância. Prospectivamente, com análise e planeamento estratégico. Para não chegarmos ao futuro tarde e mal preparados, precisamos de começar de facto a pensá-lo, não ocasionalmente, mas contínua e sistematicamente.
7 - Inteligência colaborativa. As transformações reais fazem-se com as pessoas. São, quase sempre, mudanças adaptativas de proximidade, que implicam múltiplas lideranças locais capazes de fazer a diferença. Não é possível governar hoje sem gerir conhecimento em arquiteturas colaborativas. Transformar requer um elevado grau de inteligência colaborativa - partilhar informação selecionada e personalizada que promova as convergências necessárias para realizar objetivos de interesse comum e aprender continuamente com a experiência. Só assim saberemos onde convém condicionar e normalizar, para que, na maior parte do sistema, se possam promover respostas adaptadas a cada circunstância.
8 - Audácia para transformar. Precisamos de novas respostas. Mas, desta vez, temos de as procurar bem mais fundo na nossa forma de existir. Num momento-movimento de refundação. Mesmo que para tal fosse necessário ouvir o poeta e mandar parar os relógios, silenciar os pianos, empacotar a Lua e esvaziar os oceanos: interiorizar, "inscrever", das comunidades reais a um Estado mais próximo e menos abstrato, desenvolver "uma relação realista com nós próprios". Na maior oportunidade depois de abril, teremos agora a audácia de começar, de facto, a transformar?
Professor catedrático jubilado da Escola Nacional de Saúde Pública
Um meu carro Mercedes A180, a gasóleo, tem 11 anos.
Ontem, na autoestrada, enganei-me e meti gasolina. Nunca tal me tinha acontecido. O carro veio de reboque e eu de táxi.
O que me preocupa é que, para além de não ter tido a atenção necessária e que até agora sempre tive, estranhei que o bico da mangueira fosse mais fino, e o preço fosse altíssimo. E não consegui fazer o raciocínio, juntar as várias informações que chegaram ao meu cérebro!
O acontecimento em si é um aborrecimento. Grave é o meu estado mental!