sexta-feira, 24 de abril de 2020


41º dia de isolamento social (COVID-19)


Já aqui escrevi a impressão que me faz os maiores de 65 serem considerado idosos e ficarem quase proibidos de ir à rua e nos lares de terem visitas. 
Ainda pela fotos de ontem se viu que idosa pela idade sim sou mas não incapaz como esta "classificação" parece querer fazer acreditar.
É em toda a Europa isto! Até há quem queira confinar os velhos dos lares até ao fim do ano! E se me confinam também?!

Para sair desta tristeza aqui ponho das canções sérias-mais-divertidas dos últimos tempos. 








quinta-feira, 23 de abril de 2020


40º dia de isolamento social (COVID-19)


Hoje o passeio foi por um álbum de fotografias.
Não ponho nenhuma das maravilhosas belezas naturais que vimos porque isso podemos ver aqui na Internet.
O que mais saudades faz, é o estar com amigos, rir, fazer figuras "tristes" como não tivéssemos idade para hora especial nos supermercados e tantas outras coisas que @s chamad@s idos@s não devem fazer, dizem.
Como será que isto vai ficar? Como nos vamos relacionar com a família e amigos? Deixarei de poder beijar os meus netos? Só cotovelo no cotovelo com eles e todos os outros? Bom, tenho conseguido pensar menos nestas coisas mas desde há uns dias ...





Fotos tiradas numa viagem ao Vietname, Laos e Cambodja em Outubro 2019




















quarta-feira, 22 de abril de 2020


39º dia de isolamento social (COVID-19)







Ontem dei-me conta que este confinamento me estava a custar, o que é normal. Estranho era o meu sistema de refrigeração emocional convencer-me que até me sabe bem este isolamento de tantos dias. 
É verdade que os dias parecem-me curtos, entre as várias coisas que quero e gosto de fazer em casa. Detesto tarefas de casa, só a cozinha me dá prazer. Mas tem de ser.
Com a família várias conversas por dia, ou por whatzapp, com fotografias de coisas banais, como as refeições, momentos dos netos, das corridas dos meus filhos. Com os amigos fala-se mais ao telefone, alguns diariamente, outros mais espaçados e até com alguns que havia que tempos que não sabíamos uns dos outros.
O FB e o Blog ajudam-me, a música e algumas séries da RTP2 também.
Mas andava a enganar-me, isto de estar fechado e isolado custa mesmo.
Como de costume acordei cedo, sol a brilhar e céu azul, não hesitei, e fui passear, um passeio higiénico de uma hora, um pouco mais. Para este jardim/campo que ali pus na fotografia. Está bonito, vários verdes, algumas flores de cores diversas, as hortas que aqui não se veem, um cheiro que não temos em casa. Pareceu-me que estava a redescobrir o mundo. Cruzei-me com algumas pessoas, poucas, que se afastaram de mim como eu delas, algumas com cães outras como eu a passear. O banco está vazio, claro, mas nas hortas comunitárias há gente a trabalhar, cada um na sua.
Mas que bem que me soube! 
Depois do almoço sentei-me no sofá e sentia as pernas, isso mesmo, apesar de uns alongamentos que às vezes faço via Internet, andar ao ar livre é outra coisa. Não me vai fazer mal.
Desconfio que até vou dormir melhor.

terça-feira, 21 de abril de 2020


38º dia de isolamento social (COVID-19)



Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.

O céu parece baixo e de neblina,
O gás extravasado enjoa-me, perturba;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba,
Toldam-se duma cor monótona e londrina.

(...) in O Livro De Cesário Verde

Cesário Verde morreu com 31 anos de tuberculose pulmonar, tal como dois dos seus irmãos.

Quando estudei medicina, nos anos 70, dizia-se perante algum doente cujo diagnóstico não era claro, que devíamos pensar "tuberculosamente". Havia em Portugal ainda muitos casos e nós sabíamos fazer o tratamento. Uma doença já muito esquecida no estrangeiro que muitas vezes nos pedia ajuda. Depois, com doentes perturbados e que não cumpriam o tratamento, o bacilo de Koch foi ganhando resistências e ficou mais difícil de se tratar.

Agora estamos com o Covid 19, que não sabemos como dominar. É um vírus, que nos está a manter em casa, com contacto com a família e os amigos pelas novas tecnologias. Ainda bem que as há! 
Hoje falei 30 minutos com o meu neto V. em francês, disciplina em que teve 3. E estou a conquistá-lo, depois de alguma relutância quando lhe propus, agora sou eu que tenho de dizer que vamos acabar. Conversamos de coisas que lhe interessam, ontem uma série da Netflix sobre uma prisão injusta, hoje sobre um documentário sobre uma surfista a quem um tubarão comeu um braço. E, como sempre que falamos com alguém, estou a aprender coisas que não sabia. 

E mais um dia se passou. 

segunda-feira, 20 de abril de 2020


37º dia de isolamento social (COVID-19)






Em 2016, numa reunião no Parque Saúde de Lisboa, fiz por graça esta "auditoria" à passagem de aviões, ali mesmo baixinho visto estarmos quase ao lado do aeroporto.
Era assim muitos dias. E nós, durante as consultas e as reuniões, parávamos de falar uns segundos para nos podermos ouvir. Estávamos habituados, às vezes fazíamos um gesto com a mão, era quase normal. Muitas pessoas que iam à consulta pela 1ª vez ficavam admirados, perguntavam como aguentávamos. Depois...também elas se adaptavam nas consultas seguintes.
Mas agora, 2020, não há consultas presenciais, não há aviões e eu já estou aposentada.
Como será quando isto da pandemia acabar?

domingo, 19 de abril de 2020



36º dia de isolamento social (COVID-19)



Domingo tem sido o dia de concerto do meu neto F. É à hora do lanche, os vários ramos da família reunidas pelo skype aguardam. Hoje foi piano e flauta. F está no princípio e só tem uma aula de piano por semana com a professora, por skype agora, e também por esta modalidade moderna, uma de repetição comigo. E é engraçado como ele gosta de se exibir, vê-se que tem prazer. E nós também. Saltando por cima do chá e dos bolos que não conseguimos ainda partilhar, conversa-se, às vezes uns por cima dos outros, como também acontece ao vivo. 
Hoje estava família de Paço de Arcos, 2 casas, São João do Estoril, Lisboa, 2 casas, Moçambique e Polónia.

Casa dos Pobres - um lar em Coimbra. Nunca tinha ouvido este nome se não tivessem hoje morridos 2 idosos com Covid 19. Fui procurar na internet, vai a caminhos dos 90 anos de existência. Imaginei que por essa altura...

Já conhecia o nome Associação Protectora Florinhas da Rua - Instituição que acolhe crianças e jovens em desvantagem. Tem mais de 100 anos, o nome indiciava isso...

Será que um dia se podem renomear estas instituições?

sábado, 18 de abril de 2020


35º dia de isolamento social (COVID-19)

Grande conversa tem havido de como chamar docemente às pessoas mais velhas.
O grupo da minha Mãe que fazia viagens, almoços e encontros, auto-chamava-se de gerontes, de forma divertida.

No início do aparecimento deste vírus que nos tolhe a vida, a dra. Graça, com generosidade fala nas pessoas idosas que estão nos lares e que precisam de apoio familiar. Hoje esta posição foi criticada mas sabemos que apesar da falta das visitas foram infectadas e morreram já bastantes.

E pus-me a lembrar da minha prima Lu, mãe da minha prima Lena, que para mim era uma espécie de irmã. Inesperadamente a Lena morreu, estaria doente mas um medo irracional impediu-a de se tratar. Filha única, fica a mãe, sozinha.
A Lu estava na altura com um problema da marcha após uma queda. Não teve os cuidados de recuperação adequados e estava acamada.
Calhou-me a mim procurar um lugar onde ela poderia ficar,  em casa não ia ser possível, e arranjei um bom lar, quarto próprio e várias actividades possíveis.
Todos os dias a fui visitar. Ela perguntava pela filha mas eu nunca fui capaz de lhe dizer que a filha tinha morrido. Que estava doente, que tinha melhorado, ou piorado de forma repetida. Não sei se fiz bem ou mal. Hoje questiono-me sobre isso. Acho que ela entendeu, ao fim dos tempos mas era tarde para lhe contar/confirmar. E a certa altura ficou agitada, dificuldade em dormir, praticamente sem falar, começou a recusar a comida até que morreu. Desistiu de viver, sem dúvida foi isso.

Voltando aos lares onde estão tantos nossos idosos, em circunstâncias muito piores do que a Lu, muitos estão à espera da morte. Não seria bom tentar acompanhá-los afectivamente até ao fim? Poderem, dentro de medidas adequadas de protecção terem visitas, filhos, netos, com quem pudessem conversar, rir, indo sabendo notícias lá de fora, das terras, dos vizinhos. É que vão morrer sozinhos, nem as famílias se poderão despedir deles. Muito duro!

Coisas do confinamento, hoje inscrevi-me no ZOOM para cantar os parabéns à Sofia que fez 11 anos. Um episódio da sua vida que esperemos não se repita.