35º dia de isolamento social (COVID-19)
Grande conversa tem havido de como chamar docemente às pessoas mais velhas.
O grupo da minha Mãe que fazia viagens, almoços e encontros, auto-chamava-se de gerontes, de forma divertida.
No início do aparecimento deste vírus que nos tolhe a vida, a dra. Graça, com generosidade fala nas pessoas idosas que estão nos lares e que precisam de apoio familiar. Hoje esta posição foi criticada mas sabemos que apesar da falta das visitas foram infectadas e morreram já bastantes.
E pus-me a lembrar da minha prima Lu, mãe da minha prima Lena, que para mim era uma espécie de irmã. Inesperadamente a Lena morreu, estaria doente mas um medo irracional impediu-a de se tratar. Filha única, fica a mãe, sozinha.
A Lu estava na altura com um problema da marcha após uma queda. Não teve os cuidados de recuperação adequados e estava acamada.
Calhou-me a mim procurar um lugar onde ela poderia ficar, em casa não ia ser possível, e arranjei um bom lar, quarto próprio e várias actividades possíveis.
Todos os dias a fui visitar. Ela perguntava pela filha mas eu nunca fui capaz de lhe dizer que a filha tinha morrido. Que estava doente, que tinha melhorado, ou piorado de forma repetida. Não sei se fiz bem ou mal. Hoje questiono-me sobre isso. Acho que ela entendeu, ao fim dos tempos mas era tarde para lhe contar/confirmar. E a certa altura ficou agitada, dificuldade em dormir, praticamente sem falar, começou a recusar a comida até que morreu. Desistiu de viver, sem dúvida foi isso.
Voltando aos lares onde estão tantos nossos idosos, em circunstâncias muito piores do que a Lu, muitos estão à espera da morte. Não seria bom tentar acompanhá-los afectivamente até ao fim? Poderem, dentro de medidas adequadas de protecção terem visitas, filhos, netos, com quem pudessem conversar, rir, indo sabendo notícias lá de fora, das terras, dos vizinhos. É que vão morrer sozinhos, nem as famílias se poderão despedir deles. Muito duro!
Coisas do confinamento, hoje inscrevi-me no ZOOM para cantar os parabéns à Sofia que fez 11 anos. Um episódio da sua vida que esperemos não se repita.