domingo, 12 de abril de 2020


29º dia de isolamento social (COVID-19)


Domingo de Páscoa


- Não me lembro de quando era miúda. Iria ao Porto, como no Natal? Uma vaga ideia da visita do padre, na mesa com comida. Mas a partir dos 14 anos, idade em que morreu o meu avô Eurico deixei de ir, isso tenho a certeza.


- Não tenho educação religiosa e a minha colega e amiga Lecas, que comigo foi fazer o Serviço Médico à Periferia também não. Assim, no dia da visita pascal ficámos aflitas. Resolvemos fingir que não estava ninguém em casa e fechamos as janelas e persianas até o cortejo passar. Se houvesse internet nessa altura teríamos lido que "Compasso Pascal é uma tradição cristã portuguesa que consiste na visita casa a casa de uma paróquia (daqueles que a queiram receber) do Crucifixo de Cristo no dia de Páscoa ou nas semanas seguintes para celebrar a sua Ressurreição." Wikipédia.




- Mais tarde, com filhos a entrar na puberdade, passei a alugar uma casa na Manta Rota e passarmos lá as férias de Páscoa. "As melhores de todas" diziam eles. Praia a perder de vista, quase vazia mas com os amigos deles que todos os anos também iam. No meu Honda 600, minúsculo, até as bicicletas cabiam numa armação que se montava na parte de trás. E tínhamos muito razoável tempo!



- Mais tarde, cada um na sua casa e com as suas famílias, deixámos esta romaria que tantas saudades deixou.



- Houve um ano que fui passar as férias de Páscoa com os netos à Beira, numa casinha nas Casas do Visconde e que adoptei como casa daqueles lados. Os pais das crianças foram buscá-los e passaram lá o fim de semana. No domingo de Páscoa, com a Lira Keil do Amaral, que de proprietária passou a amiga, fizemos um cabrito assado para a família dela, Pitum e alguns filhos e netos e os meus que lá estavam. Muito bom aquele domingo.


- Fui madrinha de casamento da Lena. Ao contrário do habitual era ela, a afilhada, que me vinha trazer um folar de carne delicioso. Pedi-lhe a receita mas nunca a fiz enquanto foi viva. Ontem aventurei-me. Não saiu muito bem...ou o amor que o folar dela trazia é que era o sabor?


- De ontem para hoje em Portugal, Covid 19: mais 34 mortos, 11 recuperados e 598 infectados. 


- Impressionante ver mais de 10 kms de filas de carros a sair de Roma em direcção ao mar, apesar do estado de emergência, a ordem de confinamento e as multas pesadas.

sábado, 11 de abril de 2020


28º dia de isolamento social (COVID-19)

Hoje fui ao talho. Estava sol e a pequena fila soube muito bem.

A Ministra da Saúde proibiu os Delegados de Saúde de divulgarem os números do Covid-19 da zona. Será isto um segredo estatístico?

Numa publicação que li no FB , senhoras diziam ter dispensado a empregada mas que a mantinham uma vez por semana. Julgo que não lhes pagarão os dias que elas ficam em casa. Será? Gentes!


Estou de camisola azul escura toda suja. Sim, que isto de fazer um folar de carne não é fácil. Acabada a 1ª parte, está agora a massa a levedar. Arrumei e lavei a cozinha, sabendo que dentro de pouco tempo estará novamente suja. Trabalho ingrato!

Ontem o 1º ministro informou que não vai haver aulas presenciais para o ensino do 1º ano ao 9º. Vai ser por internet e televisão. Hoje ao ler um artigo de Dominique Strauss-Kahn, fiquei a saber que quando houve uma epidemia de ébola em África, as escolas fecharam. E como resultado o abandono escolar foi grande. Também não estou a ver que os alunos pouco interessados, alguns já repetentes, com famílias que não os possam orientar, consigam seguir assim as aulas. Mas compreendo que era um grande risco o retorno. Fica só para os mais velhos e com condições.

Chocada ao ler que os hospitais privados vão apresentar as contas do seu trabalho com os infectados por corona ao estado. E que contas! Há países que os requisitou durante este período de crise. Porque não se faz o mesmo por cá?

sexta-feira, 10 de abril de 2020


27º dia de isolamento social (COVID-19)

6a feira santa, feriado religioso. Até agora de diferente só o facto do Expresso que sai aos sábados ter saído hoje. Já o tenho. Sem fila para o comprar.

Ontem só um avião aterrou em Lisboa. Vinha da Moldávia. Chegou o Ivan, o filho e a neta. Imagino como se vai viver e fazer quarentena num T1, casa de porteiro, 3 adultos e 2 crianças abaixo dos 3 anos. São gente boa, muito trabalhadora.

Muito tenho pensado como esta pandemia é injusta social e psicologicamente. Há quem diga que é um vírus democrático porque atinge todos. Mas a foma como cada um o vive é diferente.
Vou pedir emprestadas as palavras de um grande neuropsiquiatra que tem-se dedicado ao trauma e à resiliência, Dr. Boris Cyrulnik.


"Facteurs de protection" vs "facteurs de vulnérabilité"

"Ceux qui avant le confinement avaient acquis des facteurs de protection, (confort matériel, culturel, affectif et familial) vont faire un effort mais ils vont pouvoir profiter du confinement pour écrire, se remettre à la guitare, pour envoyer des messages à des copains qu’ils n’ont pas vu depuis 30 ans. Ils vont surmonter l’épreuve du confinement et ceux-là vont pouvoir déclencher un processus de résilience facile."

Pour Boris Cyrulnik, en revanche :


Ceux qui, avant le trauma avaient acquis des facteurs de vulnérabilité : maltraitance familiale, précarité sociale, mauvaise école, mauvais métier, petit logement, le tout étant associé… Ceux-là vont souffrir actuellement, ils n’auront pas fait ressource interne des autres, ils vont ruminer. […] Et quand le confinement sera terminé, ils seront plus traumatisés qu’avant. Donc il y a une inégalité sociale qui existait avant le traumatisme et qui sera aggravée.

Boris Cyrulnik : "On est dans la résistance, pas encore dans la résilience", texto e entrevista na France Culture.









  


quinta-feira, 9 de abril de 2020


26º dia de isolamento social (COVID-19)

Nada me chateia mais do que ouvir um político dizer que não devemos criar alarme social. A sociedade tem de estar alarmada, que é a sua forma de estar viva José Saramago (1922-2010), Nobel da Literatura

Chocada com uma das minhas amigas defender a forma como Israel tem tratado o problema do Covid 19. Com os palestinianos?

Máquina de roupa feita de noite, já seca e arrumada. São 11h 20 da manhã. Desabituada destas coisas, nunca pensei safar-me tão bem.

13h Acabei de chegar do super do meu bairro, diria de bairro, pequeno mas que tem tudo. Cheguei a casa e cumpri as regras. Como o vírus tem camada de gordura, agora lavo-me com detergente da loiça.

Informações pelo 1º Ministro sobre o funcionamento escolar. Os meus netos, de 10 e 15 anos não irão à escola, terão aulas à distância. Vai haver avaliação mas o do 9º ano não terá exame. 

17h52 O "Covid-19 dúvidas respondidas por profissionais de saúde" tem muito mais gente a pôr questões ao fim da tarde que a seguir ao almoço. Serão pessoas que trabalham fora? Será o aproximar da noite que cria maior ansiedade? As insónias não acontecem por acaso...

Rui Pinto, o hacker português que ilegalmente trouxe assuntos "estranhos" para a luz do dia, saiu da prisão e ficou em prisão domiciliária. Muitas dúvidas se é um herói ou um ladrão...ou as duas coisas.

Procurar a receita do folar de Mirandela que a Lena fazia. Depois de muito procurar e encontrar, descobri também a dos bolinhos da Tia Zérita que já tinha procurado sem a ver. Amanhã mãos à obra!





quarta-feira, 8 de abril de 2020


25º dia de isolamento social (COVID-19)

Como eu gostava de saber escrever bem! Na Revista do último Expresso está um " Diário da Peste", de Gonçalo M. Tavares. Isto sim, merece ser lido. Interessante e bem escrito.

Passei os olhos pelo Público.
Li a Revista do Expresso, antes que saia outro.
De reter o diário a que me referi  e o Mundo Depois do Corona vírus, artigo escrito por Yuval Noah Harari. A tecnologia da vigilância, a falsa escolha entre privacidade e saúde. E depois que mais?
Recebi mensagem da Zé contente porque já conseguiu abrir o Público que assinou. E do Chico, mas por mail, a dizer que já tem também.
Em 25 dias já tive de cortar as unhas 2 vezes.
E hoje depois de lavar a cabeça no duche cortei a franja. Já me tapava os olhos.
Telefonema da Kikas, tinha estado a pintar o cabelo em casa, claro. Ao contrário de mim, em que os brancos crescem na vertical, os dela são na horizontal. 
4a feira, dia de netos. Na impossibilidade física mantemos por skype a "aula" de repetição daquilo que o F fez com a professora de piano, também pela internet. Não falei com o V.
Umas horas, hoje poucas, a colaborar no grupo do FB Covid-19 Duvidas respondidas por profissionais de saúde". "Somos 600.000 membros neste grupo em três semanas" e "mais de 300 profissionais", pode ler-se na página própria.
Continuo a não suportar os tlins das mensagens com vídeos e bonecos. Para me concentrar pus o telemóvel em modo de avião. Se não fosse a Joana que me ligou para casa ficaria assim até não sei quando. Isolamento por isolamento...
Comida estava feita, foi só aquecer.



terça-feira, 7 de abril de 2020



24º dia de isolamento social (COVID-19)


Estamos numa época da comunicação à distância com imagem como através do skype. 


Três histórias de aulas que mostram que ainda não estamos adaptados.

- Pai sai do banho e entra na sala com a toalha à cintura. O filho estava a ter uma aula por skype e o pai terá aparecido naqueles preparos à professora. A saída da sala já foi de gatas.


- Professora universitária vai dar uma aula, liga o computador, prepara tudo e começa a reparar que nenhum aluno estava ali. Faltaram todos pensou ela. Só no fim do tempo hora reparou que se tinha esquecido de dar início no botão.


- Professor universitário, com o skype a funcionar. Os alunos não apareceram. Só depois se lembrou que as férias tinham começado.



segunda-feira, 6 de abril de 2020


23º dia de isolamento social (COVID-19)

Ontem fiz-me assinante de um jornal diário. 
Há muito tempo que o recebia on line de um amigo e eu mandava-o a amigos.

Perante as dificuldades que as pessoas passam nesta altura, empresas em layoff, despedimentos, ordenados por pagar, a situação está difícil. 

Os jornais em papel quase não se vendem, estamos todos em casa, e uma carta do jornal falando nestes problemas pedia assinaturas para o receber diariamente on line.

Não imaginava que fosse tão barato. Conversei com as pessoas a quem enviava pedindo-lhes que também fizessem a assinatura. 

Terá sido por essa acção tardia mas finalmente realizada que hoje dormi bem?