domingo, 5 de abril de 2020


22º dia de isolamento social (COVID-19)


Mais um dia em casa. Grande novidade, diria alguém a quem eu dissesse isto. 

Desde há uns poucos anos para cá limitei de livre vontade os relacionamentos. Tenho amig@s (as e os), não muitos mas os suficientes. Porque o fiz? Porque me cansam as relações muito próximas. 

Com frequência vou ao teatro, só ou acompanhada.

Agora em casa, temos imensos espectáculos, documentários, muitos mais do que o tempo permitiria ver. Tenho livros, gosto de música e até o meu hobby da joalharia.

Por tudo isto, o ficar em casa não me custa. 

sábado, 4 de abril de 2020


21º dia de isolamento social (COVID-19)

Sábado


Comprei o Expresso em triplicado, pequeno acto de generosidade para com dois vizinhos nesta época que vivemos. Bati à porta e pendurei o saco. Ainda me viram, estava eu perto do elevador. Recebi depois uma mensagem simpática de agradecimento.

Deitei os olhos pelo jornal e enfiei-me na cozinha a transformar um frango em quatro diferentes formas de o fazer. Arroz, já comido, frango de caril, outro em primo afastado de caril (menos carregado) e um estufado simples. Etiquetar e congelador.

Ouvi os dados do Covid-19 enquanto almoçava. 
Não resisto, talvez tenha uma grande capacidade de trabalho, a "minha" ministra, mas não tem jeito nenhum para a actividade relacional que é exigida ao estar a dar as notícias. Já antes da pandemia era uma pessoa muito desgradável. Uns esgares, arremedos de sorriso, uma forma seca de falar, que seja sempre o secretário de Estado que acompanhe a minha colega Graça Freitas. 

Comissário Montalban, a seguir ao almoço. Cada episódio cada crime, como é de esperar. Gosto de ver. Tem uma duração enorme, gasta logo uma parte da tarde.

Telefonemas, agora mais frequentes e de muito maior duração. Somado o tempo, gasta-se à vontade uma hora no mínimo. E eu que sempre achei que o telefone era para dar recados!

A sopa da noite, simplesmente. Antes de adormecer comerei uma banana se me apetecer.

Candice Renoir, mais uma série policial francesa muito divertida. São os aspectos da observação, dedução e psicologia da Candice que gosto. Ah, e a  sedução, coquetterie e paixão.

Os sábados em confinamento não rendem nada!




sexta-feira, 3 de abril de 2020


20º dia de isolamento social (COVID-19)





Sol! A ler no pátio do meu prédio. 
Foto tirada pelos vizinhos do 6ºC

quinta-feira, 2 de abril de 2020


19º dia de isolamento social (COVID-19)

2 de Abril 2010

O Hospital Júlio de Matos, hospital psiquiátrico em Lisboa, iniciou o seu funcionamento em 2 de Abril 1942. Faz hoje anos.


E lembrei-me desta história lá passada e comigo.
Aluna de Medicina da Faculdade de Medicina do Hospital de Sta Maria, tinha lá algumas aulas práticas a que se seguia uma discussão do caso.
Abro aqui um parêntesis, a minha Mãe era médica psiquiatra e pedopsiquiatra, directora da "Clínica Infantil", que se situava lá dentro do enorme e lindo parque que aquele hospital tem.
Um dia, quase no fim de num prolongamento de uma aula, disse ao meu colega e amigo Manel que estava sentado a meu lado qualquer coisa como "vou ver a minha mãe que já não a vejo há uns dias".
A seu lado estava uma colega de turma que não faço a mais pequena ideia quem era. E perante a minha frase e saída da sala ela perguntou ao Manel se a minha mãe estava no Júlio de Matos. Maroto, respondeu-lhe que sim. E ela insistiu, há muito tempo? E ele disse-lhe que desde que eu era pequenina.
A colega, contaram-me, ficou muito impressionada, e com tristeza referiu-se a mim, coitadinha, que sofrimento deve ter com esta situação.
Já disse que não sei quem foi a colega, sei que essa situação nunca terá sido clarificada.

Acho que se tivesse sido num hospital geral ela teria perguntado que doença eu teria para estar internada. Ou se teria ido a uma consulta, e até de quê.
Mas a doença mental, estávamos num hospital psiquiátrico relembro, tem um estigma tramado, onde o medo mas também a vergonha predominam. Parou o pensamento da colega e construiu a tragédia sem hesitar.
Quem seria ela? 

quarta-feira, 1 de abril de 2020


18º dia de isolamento social (COVID-19)

1 de Abril 2020


"Levanta-te Magda, passa depressa para a casa de banho que vem aí o homem arranjar o estore", disse o meu Pai ao acordar-me.

Entre o meu quarto e a casa de banho havia um hall quadrado e grande, forrado de prateleiras cheias de livros e um móvel antigo em cima do qual estava o telefone. Naquela altura as chamadas eram para ser breves e estar ali em pé nem apetecia falar muito.

Acordei estremunhada e lá fui, tomar banho e arranjar-me. Sem pensar em nada

Quando saí a casa era um sossego, a luz que vinha da sala não era clara e a porta do quarto dos meus Pais estava fechada. Silêncio total.

Não havia  homem nenhum nem estore  que precisasse de arranjo. 

Mentira de 1º de Abril, teria eu uns 12 anos. 


terça-feira, 31 de março de 2020


17º dia de isolamento social (COVID-19)


Acordei às 5 horas da manhã. Mas para quê? Que tenho eu de fazer nesta situação de isolamento? 5 horas, madrugada, deve estar tudo escuro.

Como não conseguia adormecer, nem mesmo ficar na cama, levantei-me. Abri a persiana e um céu azul com um sol imenso do lado de lá do vidro estava ali. Da janela ao lado apareceu a minha vizinha, olá, olá, já viu isto como está hoje, disse toda animada. Eu ainda estava estranha.
Olhei em frente, as janelas estavam todas abertas e algumas pessoas gritavam "festejemos!". No terraço do prédio as crianças jogavam à bola, andavam de bicicleta enquanto os pais falavam entre si.
Toca o telefone, era o meu neto Vicente a dizer-me todo animado, avó vou para Carcavelos fazer surf!  Pouco depois o telefone torna a tocar, a minha amiga Zé a lembrar-me que tínhamos hoje o teatro às 19 horas, a "A Reconquista de Olivenza" e até podíamos ir antes ao Gambrinos lanchar aqueles croquetes maravilhosos e beber uma cerveja.
Acertámos tudo. Há quanto tempo eu não ia ao teatro? Hum depois de pensar situei que o último tinha sido no Teatro Aberto, "A Criada Zerlina" de Hermann Broch, um monólogo muito interessante, que nos levava para tempos em que ainda havia criadas, aquelas que viviam nas casas, sabiam tudo mas faziam que não sabiam nada. E eram pau para toda a colher...

E acordei. Tinha sido um sonho, eu que digo que este isolamento não custa muito, mas o meu inconsciente desmentiu-me.
Virei-me de lado e adormeci.

segunda-feira, 30 de março de 2020


16º dia de isolamento social (COVID-19)

Já contei mas há muito tempo que sou médica. Trabalhei 40 anos e reformei-me em Julho de 2018.

Especialista, com várias formações de trabalho relacional, muito treino clínico, houve duas funções que me foram distribuídas uns anos antes de sair.
Só me vou referir a uma, ser a responsável pelos pedidos de consulta enviados por outros médicos, maioritariamente de medicina interna e familiar dos centros de saúde, mas também de outras especialidades.
Eles enviavam uma pequena história clínica para avaliar, aceitar ou devolver com uma explicação e eventual orientação.
Reformei-me e ao contrário da maioria dos médicos decidi que me iria dedicar a outras coisas que não a medicina, como tem acontecido.

E eis que agora, perante esta pandemia, resolvi que tinha de ter alguma acção. Ofereci-me quando a Ordem dos Médicos pediu colaboração de reformados mas ainda não fui chamada. Com a minha idade não admira.

Mas sentia desejo de intervir, ajudar de alguma maneira.
E no Facebook abriu um grupo chamado "Covid-19, dúvidas respondidas por profissionais de saúde". Aderi. É viciante, ler as perguntas das pessoas, responder, acalmá-las quando é possível, orientá-las se for caso disso.
Sinto-me útil, a ansiedade das pessoas é tão grande que um espirro pensam logo ser sinal de Covid 19. 
Novamente a ter contacto com a doença mas também a parte social. 
Continuarei um destes dias este assunto.