domingo, 27 de maio de 2012

Poema - Ruy Belo

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E TUDO ERA POSSÍVEL
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Na minha juventude antes de ter saído
de casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido
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Chegava o mês de Maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela tivesse acontecido
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E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer
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Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer

domingo, 20 de maio de 2012

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Poema - Gastão Cruz

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E-MAIL
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Está sob o vidro a pele
é um suor de sílabas
de músculos pulsando
na primavera física
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Queria fazê-la
sair do vidro e simples
atravessar as nuvens
como um calor longínquo
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subitamente perto
com mãos e lábios vindo
encostar-se ao meu corpo
como o ramo do símbolo

domingo, 13 de maio de 2012

Aconteceu...o tempo, esse escultor

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Quando eu olhava para as fotos das comemorações dos antigos combatentes da 1ª guerra, pensava para mim que eram muito velhos, será que ainda se reconheceriam?
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Vem isto a propósito de um almoço a que fui recentemente, para festejar os 35 anos de licenciatura. Embora não estivéssemos todos, o curso era muito grande, lá nos encontrámos perto de 200. A verdade seja dita, há os que reconhecemos e os que não reconhecemos. E teremos conhecido alguma vez?
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Logo à entrada para os jardins, prévios ao salão onde seria servida a refeição, muitos abraços, beijos, muitas perguntas como há quanto tempo não nos víamos, onde estás colocada, ainda trabalhas?
E alguma admiração e um pouco de comiseração perante a minha resposta afirmativa.
Com a minha idade muitos estão reformados do serviço público - médico raramente se reforma do trabalho.
E claro, as perguntas que não podem falhar sobre os filhos e netos.
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À entrada uma colega muito simpática agarra-se a mim, contente, efusiva, beijos e abraços. Eu não me lembrava nada dela mas lá correspondi embora de forma mais discreta.
Quando os cumprimentos amainaram, optei por uma parcial sinceridade, dizendo lhe que lhe reconhecia a cara mas os nomes, sou péssima, já me é mais difícil de fazer a ligação, qual era o seu perguntei. Ela lá me disse, um nome que não me fez tocar nenhum sininho na memória. E perguntei-lhe para confirmar, se ela sabia o meu. Claro! disse sorridente, tu és a Zé!
Podia ter deixado a coisa por ali, mas, com um sorriso nos lábios, não sei porque o fiz, disse-lhe do seu engano.
Talvez pudesse não o ter feito, ela estava tão feliz de "me" rever.
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Assim que nós estamos 35 anos depois de acabarmos o curso, aproximando-nos a passos largos do que imagino serem os encontros dos veteranos de algum feito longínquo.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

sábado, 5 de maio de 2012

Poema - Alberto Caeiro

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Quando tornar a vir a primavera
Talvez já não  me encontre no mundo.
Gostava agora de poder julgar que a primavera é gente
Para poder supor que ela choraria,
Vendo que perdera o seu único amigo.
Mas a primavera nem sequer é uma coisa:
É uma maneira de dizer.
Nem mesmo as flores tornam, ou as folhas verdes.
Há novas flores, novas folhas verdes.
Há outros dias suaves.
Nada torna, nada se repete, porque tudo é real.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Aconteceu...ficam as memórias depois das portas se fecharem

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Caro Amigo,
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Ontem, por volta das 19h, fui ao Colombo buscar o jornal, digo buscar porque para quem compra o Público de 6ª feira e sábado, o de domingo é oferta.
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Entrei pela porta da Fnac, a mais perto de minha casa. Mas antes, como deves estar recordado, há a Bata, sapataria de cadeia internacional, com produtos bastante em conta. No sábado tinha feito o mesmo percurso e nessa loja estavam cartazes a anunciar 30% de desconto para sapatos de homem. Ontem, domingo, os cartazes tinham mudado alastrando o desconto a todos os artigos. Em ambos os dias, talvez algum mosquito invisível fizesse companhia aos empregados.
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É este o nosso panorama, e cada loja que faz estes descontos no início da época é uma loja que não está a conseguir vender. Corre o perigo de encerramento. E são muitas nestas condições. Todos podemos, já hoje, citar várias.
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Mas o encerramento de certas lojas dói. Pelo valor simbólico e não economicista.
Citaste o caso da livraria Portugal, onde durante tantos anos foste assim como eu. Tinha funcionários que tudo sabiam sobre os livros. Querias saber sobre um livro, um assunto, um autor, e ainda fora da era dos computadores eles lá te informavam e te levavam ao lugar certo. Mas as pessoas deixaram de lá ir comprar e fechou. Doeu.
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Quanto à Barateira, que parece que também vai fechar,  poucas vezes lá entrei.  Suponho que era por amor que se mantinha aberta. Mas também o amor deixa de ser possível de suportar. Ouvi dizer que para construir uma garagem. Ali? Deve valer muito esse espaço e os clientes serão poucos.
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Indissociável da livraria/alfarrabista Barateira, sabes, aquele homem muito magro, sério e com ar ausente, de grandes barbas que sempre nos habituámos a ver sentado na Cervejaria Trindade, na mesma mesa e frente a uma floresta de copos de cerveja grandes, "girafas", já  vazios. Faleceu há uns anos. Sempre achei que era ele o verdadeiro apaixonado dos livros.
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Memórias que ligam as coisas ao afecto, por isso e quem sabe se também por ser mulher, mais dada às coisas do coração que às da razão, estes desaparecimentos deixam marcas.
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Um abraço e até à próxima