sábado, 23 de julho de 2011

Poema - Fernando Pinto do Amaral

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MEMÓRIA
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Aprende o infinito, recupera
a distraída bússola da alma
pouco a pouco sonâmbula, o exausto
sabor da tua vida enquanto é mais
que um recado de lume no teu corpo,
que a promessa da febre no teu sangue,
e aprende sobretudo a suspender
o tempo quando abraça quem morreu
só para ressuscitar dentro de ti
ao cumprir a memória incandescente
dos dias que o amor transforma em meses,
dos meses que o amor transforma em anos,
dos anos que o amor rasga e entrega
ao rosto azul do céu e destes versos.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Aconteceu...que é bom ter tempo para fazer nada!

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Uma vez em conversa com uma pessoa que ia entrar de férias, ouvi da sua boca, dito de forma arrogante, que não precisava delas para nada, não tinha gosto por viagens, nem por praia, nem por nada "dessas coisas". Ia limpar o quarto e arrumar as suas coisas e esperar que o tempo passasse.

Podia-se pensar que não tinha dinheiro para as gozar. Mas não, não era o caso. E entristeceu ouvir  aquelas afirmações, que escondiam um vazio, uma enorme solidão, recusando procurar alguém que a ajudasse a pensar sobre si e lhe permitisse elaborar essa sua parte sofrida e poder viver mais satisfatoriamente.

Mas há quem goste e precise de Fazer Nada, como se de uma tarefa se tratasse, sentar-se e deixar-se ali, pensamento, olhos, seja o que for ficam à solta, a passearem por onde lhes apetecer; espreguiçar, ler, passear, conviver, tudo serve para descansar.

Como se de uma tarefa se tratasse...ou uma ordem, descansem! Parece que o vocábulo férias vem do latim, e correspondia a um dia em que não se trabalhava, o domingo, por razões religiosas, depois alargado aos dias seguidos a que hoje se tem direito...ou devia ter. 

Eu tenho e vou obedecer o melhor que eu puder!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Aconteceu...que ainda não havia internet...nem blogs

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Publicar-se - socialização de si próprio. Que ignóbil necessidade! Mas ainda assim que afastada de um acto - o editor ganha, o tipógrafo produz. O mérito da incoerência ao menos.

Bernardo Soares

Aconteceu...restos naturais e outros deixados pelas ondas que lambem a areia

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.............................Foto - Magda

domingo, 17 de julho de 2011

Poema - Manuel António Pina

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A UM HOMEM DO PASSADO

Estes são os tempos futuros que temia
o teu coração que mirrou sob pedras,
que podes recear agora tão fundo,
onde não chegam as aflições nem as palavras duras?

Desceste em andamento; afinal era
tudo tão inevitável como o resto.
Viraste-te para o outro lado e sumiram-se
da tua vista os bons e os maus momentos.

Tu ainda tinhas essa porta à mão.
(Aposto que a passaste com uma vénia desdenhosa.)
Agora já não é possível morrer ou,
pelo menos, já não chega fechar os olhos.

sábado, 16 de julho de 2011

Aconteceu...pouca terra, muita terra num movimento pendular

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Fazer uma viagem de combóio pode ser uma coisa deliciosa. Tenho a recordação de várias Lisboa-Porto, lá para o meio do século passado, e da carruagem restaurante, com umas óptimas omeletes. Demorava menos que ir de carro, é bom que nos lembremos que as autoestradas não existiam, e a estrada era estreita, cheia de curvas e algumas serras para atravessar. Não era obrigada a ficar sentada como no automóvel, coisa que custa a qualquer criança.

Vem isto ao caso das actuais viagens nos alfa pendulares, rápidas, com boas cadeiras mas...onde enjoo, sobretudo se vier sentada de costas para o sentido em que o combóio se movimenta. O constante balançar ritmado da carruagem, lentamente mas constante como um pêndulo do relógio, cria em mim a situação semelhante à da pesca em barco parado, com ondulação lateral. O resultado é o mesmo enjoo.

Numa viagem recente, vinha eu de costas, tive de me pôr em pé, precisava de passear. O espaço central é tão estreito, que acabei por fazer parte da viagem em pé junto à porta da saída, com o olhar bem fixo para a frente.

Há coisas que não entendo, nesta evolução tecnológica. Tanto quanto me lembro, as costas dos bancos eram móveis, todos iam "virados" para a frente. Chegado ao destino e antes do início da viagem de regresso, as cadeiras eram com facilidade transformadas e postas na sentido certo.

E agora com, rapidez, vídeo, ar condicionado (por vezes frio demais), hospedeiras, jornais e café de oferta, aos bancos são rígidos na sua posição?

Há qualquer coisa que me escapa!