sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Aconteceu...há mar e mar, há ir e voltar

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A organização de uma viagem é para certas pessoas, mesmo que sempre prontas para ir, muito complicada. Deixam quase tudo para a última da hora e arrastam-se, em dúvidas, e hesitações sobre o que levar, o que deixar, como arrumar, enfim, é mesmo até ao último minuto.
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Há uns anos, um grupo de quatro amigos, resolveu ir a Paris de camioneta. Como partia às 6h da matina, juntaram-se na casa de uma delas e lá ficaram encostados a tentar dormitar, para depois partir juntos. Acho que não conseguiram, a dona da casa andava para a frente e para trás, à procura do que levar, sem acabar de arrumar...nem deixar descansar. À hora de partir, estava cansada mas tinha conseguido ter tudo pronto.
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Como se movimentos internos contraditórios existissem dentro das pessoas, partir de casa é um pouco a aventura, o afastamento, a perda da base de segurança conhecida. Mas o desconhecido atraí, e a curiosidade, vivida com segurança, pode ajudar a afastar do conhecido, separar.
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Margareth Mahler, psicanalista que estudou o desenvolvimento psicológico da criança e conceptualizou uma teoria sobre as psicoses infantis, descreve a certa altura do desenvolvimento infantil, quando a criança começa a ter autonomia para se afastar da mãe (aqui como figura de ligação e segurança para a criança), como ela se afasta um pouco, olha para trás, avança mais um pouco e depois volta completamente para junto da mãe, às vezes toca-lhe, para depois recomeçar a afastar-se. Este voltar para depois partir de novo, é como se a criança fosse à bomba-mãe encher o depósito de gasolina-afectiva.
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Curiosamente, quando as pessoas viajavam muito de carro, hoje é mais de avião, os receios motivados pelo afastamento eram sobretudo nos primeiros cem quilómetros, nem que ainda faltassem mil. Mas a partir dessa altura era mais a vontade do novo que prevalecia e até já carregavam no acelerador.
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Quando se vai de férias, deve-se encher bem o depósito afectivo antes de partir e ir gastando-o com moderação. Daí a importancia para mim de comer bacalhau com todos na véspera da partida para uma viagem a Terras de Vera Cruz...

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Poema - Sophia de Mello Breyner Andresen

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OS PÁSSAROS

Ouve que estranhos pássaros de noite
Tenho defronte da janela:
Pássaros de gritos sobreagudos e selvagens
O peito cor de aurora, o bico roxo,
Falam-se de noite, trazem dos abismos da noite lenta e quieta
Palavras estridentes e cruéis.
Cravam no luar as suas garras
E a respiração do terror desce
Das suas asas pesadas.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Aconteceu...a dificuldade de decidir aumenta quando pressionados de forma inadequada?

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Vivemos de vez em quando situações que deixam dentro de nós sentimentos vários.
Quer na vida pessoal quer na profissional, temos frequentemente de fazer a análise de situações e tomar as resoluções que nos parece mais adequadas. Quanto maior é a necessidade de decidir, mais necessitamos de ser habilidosos na avaliação.
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Se trabalharmos em certas profissões, como os médicos intensivistas, que lidam com a vida e a morte no momento, é necessário decidir ao segundo. É preciso uma cabeça muito organizada e espírito frio.
Noutras, em que a vida e a morte não estão tão presentes, poderemos ter de atender a outros factores, alargando o campo da observação.
É o caso das situações com certo tipo de jovens, sem limites, com problemática pessoal, familiar, escolar, policial e jurídica de longa data, e que por já terem ultrapassado o comportamento admissível, são levados aos médicos e aos serviços de saúde como recurso último.
Nem sempre os serviços de saúde são a solução.
Apanhados nessa onda, somos postos à prova. Temos de decidir, não ao minuto mas na hora, ali.
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Porque há sempre outros lados, passamos por frios, ouvimos críticas que começam por ser a Portugal, depois aos serviços de saúde e acabam em nós.
Não é boa técnica exigir insultando, amedrontando com ameaças veladas. Podemos ficar contaminados com os sentimentos de injustiça que nos estão a fazer viver. Exige um maior trabalho psiquico de quem recebe a desqualificação continuar a analisar objectivamente para depois decidir.
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Há situações mesmo lixadas, não tem outro nome. E temos mesmo de as viver, seja qual fôr a hora do dia ou da noite, basta chamarem-nos e sermos nós quem tem de responder.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

domingo, 24 de outubro de 2010

Poema - António Maria Lisboa

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POEMA DO COMEÇO
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Eu num camelo a atravessar o deserto
Com um ombro franjado de túmulos numa mão muito aberta
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Eu num barco a remoa a atravessar a janela
Da pirâmide com um copo esguio e azul coberto de escamas
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Eu na praia e um vento de agulhas
Com um Cavalo-Triangulo enterrado na areia.
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Eu na noite com um objecto estranho na algibeira
- trago-te Brilhante-Estrela-Sem-Destino coberta de musgo.

sábado, 23 de outubro de 2010

Aconteceu... hehe, toca a beber vinho onde o IVA vai subir menos que no leite com chocolate


“Em virtude do Orçamento de Estado, houve aumento do IVA de 6% para 23% referente ao leitinho com chocolate que é fornecido, pelos estabelecimentos de ensino públicos, ao pequeno-almoço dos alunos. Por este motivo passa a ser disponibilizado aos mesmos, pela manhã 1 pacote de vinho tinto/branco que mantêm a taxa de IVA a 13%.”

Era de supor que anedotas como esta começassem a circular. Acredito que o leite servido nas escolas, a bem da obesidade infantil, seja simples e sem aditivos.
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Quando eu estava no Serviço Médico à Periferia, numa zona vinhateira, o vinho fazia parte integrante da vida das pessoas desde tenra idade. Os choros dos bebés eram acalmados com uma “boneca”, chucha artesanal feita com um quadradinho pequeno de pano dentro do qual era colocado açúcar, e cujas pontas eram presas com um atilho. Molhado em vinho, era dado como chucha à criança, que acalmava e dormia.
Antes de ir para a escola, e para "alimentar" e aquecer, um bocadinho de vinho com açúcar.
Quando já trabalhavam, parte dos pagamentos da jorna era feito em vinho. Como diziam os trabalhadores rurais, a força vinha "a poder do vinho". Era "um garrafãozinho" de cinco litros, que era bebido durante o dia.

Obviamente que quem se lixava era o fígado e vi pessoas de pouco mais de vinte anos a morrer com cirrose hepática.

Nessa altura não havia tantas crianças cujas professoras se queixavam com queixas de hiperactividade e deficit de atenção como hoje em dia. Algumas, as das "bonecas", até seriam mais paradas e sonolentas. Sabemos como o álcool nas crianças queima as células do cérebro, depois as do fígado. As crianças não aprendiam, un point c´est tout!

Se a blague dos pacotes de vinho fosse verdadeira, que diriam os laboratórios da indústria farmacêutica que vendem psicoestimulantes, usados para os meninos que não param quietos? Portugal, que não quer nunca estar atrasado em nada… tenta aproximar-se em percentagem do uso nos EUA.