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GUIA DE CONCEITOS BÁSICOS
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Use o poema para elaborar uma estratégia
de sobrevivência no mapa da vida. Recorra
aos dispositivos da imagem, sabendo que
ela lhe dará um acesso rápido aos recursos
da sua alma. Evite os atolamentos
da tristeza, e acenda a luz que lhe irá trazer
uma futura manhã quando o seu tempo
se estiver a esgotar. Se precisar de
substituir os sentimentos cansados
da existência, reinstale o desejo
no painel do corpo, e imprima os sentidos
em cada nova palavra. Não precisa
de dominar todos os requisitos do sistema:
limite-se a avançar pelo visor da memória,
procurando a ajuda que lhe permita sair
do bloqueio. Escolha uma superfície
plana: e deslize o seu olhar pelo
estuário da estrofe, para que ele empurre
a corrente das emoções até à foz. Verifique
então se todas as opções estão disponíveis: e
descubra a data e hora em que o sonho
se converte em realidade, para que poema
e vida coincidam.
sábado, 3 de abril de 2010
sexta-feira, 2 de abril de 2010
quinta-feira, 1 de abril de 2010
Aconteceu...enquanto se espera
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A "literatura" das sala de espera dos serviços de saúde é frequentemente pouco cuidada. É raro ter alguma qualidade, resumindo-se aos jornais gratuitos diários na maioria dos hospitais privados, revistas vulgares, de pouca qualidade, na maioria dos consultórios. No meu serviço, num hospital público, são os técnicos que levam as revistas depois de lidas em casa o que faz com que o stock seja mais ou menos renovado.
Às vezes há uns incidentes curiosos, pois por distracção e pouco cuidado também, reparamos um dia com uma revista com conteúdo tratado de forma sensacionalista que poderia perturbar os nossos utentes. Foi prontamente retirada.
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A sala de espera da clínica de fisioterapia onde fui esta semana estava cheia de doentes. É exígua, tem uma fila de cadeiras fixadas às paredes laterais deixando um corredor estreito onde uma cadeira de rodas eléctrica não cabe. Lá no alto uma televisão acesa mas sem som. Só um dos lados da sala a pode ver, arriscando-se a ficar com um torcicolo e necessitar de mais sessões. Senti-me claustrofóbica, perguntei quantas pessoas estavam à minha frente e saí. Quando volto já há lugar. Uma mesa pequena, também na continuidade das cadeiras, tem algumas revistas. Escolho uma e ponho-me a folhear. É de viagens e tem boas fotografias e convites para passeios e férias. As revistas estão com bom aspecto mas alguma coisa estranha me chama a atenção. Demoro um pouco a perceber. Depois reparo nos preços, pois é, estão em escudos. Procuro a data da revista - 2001. Pego noutra e vejo que é da mesma idade. A mais recente era de 2003. Grandes relíquias!
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A sala de espera, assim como o atendimento pela funcionária que o acolhe, é o primeiro contacto do utente com o serviço. É desejável não esperar muito tempo na sala. Mas enquanto se está que se tenha uma sensação de estar a ser acolhido, como se a um porto seguro se tivesse chegado. Então sim, poderemos pensar, dormitar, tentar conhecer os colegas de espera, ler, ...
Será pedir muito?
Etiquetas:
consultórios médicos,
hospitais,
salas de espera
quarta-feira, 31 de março de 2010
Poema - Eugénio de Andrade
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Ainda sabemos cantar,
só a nossa voz é que mudou:
somos agora mais lentos,
mais amargos,
e um novo gesto é igual ao que passou.
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Um verso já não é a maravilha,
um corpo já não é a plenitude.
Ainda sabemos cantar,
só a nossa voz é que mudou:
somos agora mais lentos,
mais amargos,
e um novo gesto é igual ao que passou.
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Um verso já não é a maravilha,
um corpo já não é a plenitude.
terça-feira, 30 de março de 2010
Aconteceu... num programa de cultura
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Momento subversivo pela desconstrução da lógica vigente e esperada, aconteceu já há bastante tempo num programa Câmara Clara da RTP2 da Paula Moura Pinheiro.
Porque o revi e me diverti novamente, aqui está, com Alberto Pimenta e Vitor Silva Tavares
segunda-feira, 29 de março de 2010
Aconteceu...no Serviço Médico à Periferia - 4
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Não conhecia aquela doente. Era a primeira vez que vinha ao posto depois da minha chegada. Iamos começar, tal como com todos os outros, eu a conhecê-la e ela a descobrir a doutora novinha que veio lá de Lisboa. Falhamos ambas.
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Durante muitos anos aquele posto clínico tinha estado fechado por não haver médicos colocados. A não ser o local, que morava na vila a uns poucos quilómetros de distância de onde nos encontravamos e que tinha o seu consultório particular no 1º andar esquerdo de um prédio de rés-do-chão e primeiro. Porque estou com estes pormenores? É que o 1º andar direito era o posto da caixa. A partir de certa altura ele não trabalhava na caixa e quem queria virava-se para o outro lado do patamar e ia ao privado.
Ao contrário de certos colegas a que normalmente chamamos de João Semana e em quem vemos qualidades de dedicação e empatia, generosidade extrema, que chegam a exercer a medicina quase como se de um sacerdócio se tratasse, aquele era arrogante e omnipotênte. Tinha tudo e todos na mão e não gostou nada que as colegas tivessem sido colocadas durante um ano na sua terra e a fazer a volta pelos vários postos existentes. Via nisso um perigo para o seu feudo privado. Ele e a mulher que o secretariava no consultório e sussurrava (às vezes bem alto) que aquelas doutoras de Lisboa deviam ser comunistas. Onde foi arranjar aquela ideia não sei, mas era uma boa forma lá para aquelas bandas, de tentar criar um clima de insegurança com rejeição. Não conseguiu, felizmente, que a pouco e pouco caimos nas graças da população.
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Dizia eu que não conhecia a doente. Não me lembro porque foi à consulta, mas fiz como é da prática, depois de um introito social, uma escuta para recolha do motivo da consulta, sintomas e os antecedentes pessoais. Faltava a observação directa.
Ainda na secretária pedi à senhora que esticasse o braço, com a manga arregaçada e medi-lhe a tensão arterial. Em seguida pedi-lhe que se sentasse na marquesa depois de despir a camisola para eu a poder auscultar. O que eu fui pedir... Quase de imediato a doente pôs-se em pé e aos gritos dirigiu-se para a porta. Era o que faltava, vêm estas de Lisboa e mandam despir uma pessoa! O Dr. J. sempre me auscultou por cima do casaco, era o que faltava, a mim não me apanha cá mais!
E saiu continuando a vociferar contra as modernices de Lisboa.
Nunca mais a vi.
domingo, 28 de março de 2010
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