quarta-feira, 18 de abril de 2012

Poema - Ruy Belo

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DAS COISAS QUE COMPETEM AOS POETAS
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Nas terras onde os sinos andam pelas ruas
há horas surdas sós e sem cuidados
há mar condicionado ao possível verão
e vendem-se manhãs e mães por três ideias
Nas terras onde a música é o fogo de artifício
a camioneta curva a carga sob os plátanos
e à sombra dos lacrimejantes carros
o gato dorme a trepadeira sobe
o soba grita nunca ninguém sabe
a erva cresce  e as crianças morrem
O mar aceita chão a mão do sol
Que plural deplorável o da magna agência mogno
E nas tílias há riscos dos vestidos de retintas raparigas
e o dente resistente número quarenta cheira a pepsodent.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

sábado, 14 de abril de 2012

Aconteceu...no posto de vígia

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"A Horta é um camarote de frente para o Pico, palco de todo o ano" - Vitorino Nemésio
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A varandinha, é pequena, mas tem uma mesa e duas cadeiras. É para lá que vou logo que acordo. É lá que me sento ao fim da tarde quando acabo o trabalho. 
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É que ali, de minuto a minuto, a paisagem muda. E sempre bonita! O Pico, sempre o Pico, ora tapado ora com as núvens a lamberam-no doce ou rapidamente,  vai-se vestindo ou desnudando.
Estes dias, marotas, as núvens tapavam-no. Só ao 3º dia, logo que olhei ele se mostrava. Para alguns minutos mais tarde já estar mais tapado, e mais tarde já só ser visto lá de cima do avião.
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Mas o movimento do porto também é foco de atenção e de grande distração. São barcos a entrarem e a saírem, às vezes quase só os que regularmente fazem a carreira para o Pico e para S. Jorge. Mas estes dias...O próprio porto, tal como o Pico variava, transformando a sua paisagem. Veleiros enormes, caravela de 3 mastros, iates de luxo a fazer pensar nuns Onassis qualquer, fragata da Armada, um enorme movimento permanente. E claro, os barquinhos pequenas das escolas de vela e remo lá da terra.
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Presa no movimento e na paisagem, o tempo perde o sentido, as horas passam e eu, ali fico, como que hipnotizada mas vigil, de máquina sempre à mão, pronta a disparar.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

domingo, 8 de abril de 2012

Poema - Alexandre O ´Neill

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O ATRO ABISMO
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Quando o poeta escreveu: "...o atro abismo!",
Umas vírgulas por ele mal dispostas,
Irritadas gritaram: "É estrabismo!".
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Mas um ponto que viveu no dicionário,
De admiração caiu de costas
E abismado seguiu o seu destino...

quarta-feira, 4 de abril de 2012

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Aconteceu...que nem todas as brincadeiras são pacíficas

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Hoje passou por aqui o coelho de Páscoa, e deixou ovos escondidos no jardim. Os jovens presentes só tinham de os encontrar. Foi uma aventura gira, havia ovos cozidos e pintados por fora, ovos de chocolate e mais algumas surpresas. Finda a busca foi feita a divisão e seguiu-se o momento alto, saborear tudo, sem restrições, seguido de outros jogos de bola. 
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Muitos jovens hoje não sabem o que são estes jogos de família. Agarrados às suas máquinas electrónicas, portáteis ou fixas, jogam isolando-se e afastando-se destas coisas simples e saudáveis.
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Uso frequentemente o Google para saber o que são os jogos que os miúdos me descrevem nas consultas. E fico aterrada! Muitos têm uma classificação de "Só para adulto", mas eles jogam-nos. E sem crítica como os paizinhos que os compram. Jogos dedicados a assassinatos em série, outros cuja função é fazer bandos de assassinos, de roubar, matar os polícias que os perseguem, e tantas outras coisas deste género. Fico depois a saber que lá em casa chega a haver guerra entre os filhos e o pai (mais frequentemente), mas também tios e avô! Todos querem jogar.
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Conversado com os adultos, familiares das crianças a que me refiro, nem eles realizaram muito bem o que jogam. Não é real, é um jogo, explicava-me um que tinha levado o filho à consulta por perturbações do comportamento.
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Esta perda de valores, respeito pela vida com ausência de culpabilidade, inquieta-me muito. Estaremos a fabricar o quê?