sábado, 31 de dezembro de 2011

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Aconteceu...na esteira do filme "O Miúdo da Bicicleta"

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Poucos minutos depois de começar o filme lembrei-me dela. Que será feito daquela miúda, hoje adolescente crescida?
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A mãe, toxicodependente e prostituta, tinha morrido de SIDA. O pai, imaturo e sem laços seguros com a filha, rejeitou-a colocando-a em casa dos avós. Tentaram os maternos e os paternos mas ela fugia sempre à procura dos pais.
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Foi então colocada em várias instituições, e de todas fugia. De camionete ou de comboio, era sempre encontrada só, mas em sítios onde estivera com os pais, a quem, idealizando, tudo perdoava.
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Ao contrário de Samantha, personagem do filme "O Miúdo da Bicicleta", que lutou por criar vínculo, dando amor e contenção, ela andou em vários centros de acolhimento, cortando quaisquer laços criados.
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Acompanhei-a ao longo deste atribulado percurso, tentando ser uma âncora. Mas o caminho deixou de ter retorno e a entrada no perigo foi inevitável..
Absentismo escolar, integração em grupos de jovens da rua, esse foi o seu destino. Era encontrada em muito mau estado, levada de volta para a instituição, mas nesse mesmo dia conseguia fugir.
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Terá sido essa a forma de "se encontrar" com a mãe?
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O fim do filme permite imaginar um final feliz...será?.
O filme não nos dá a conhecer as motivações da Samantha, que o acolhe e mantém, mesmo que para isso tenha de se separar do seu namorado.
E já agora, quais as motivações dos Irmãos Dardenne, que têm vários filmes deste teor?

domingo, 25 de dezembro de 2011

Poema - Álvaro Feijó

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NATAL

Nasceu.
Foi numa cama de folhelho
entre lençóis de estopa suja
num pardieiro velho.
Trinta horas depois a mãe pegou na enxada
e foi roçar nas bordas dos caminhos
manadas de ervas
para a ovelha triste.
E a criança ficou no pardieiro
só com o fumo negro das paredes
e o crepitar do fogo,
enroscada num cesto vindimeiro,
que não havia berço
naquela casa.
E ninguém conta a história do menino
que não teve
nem magos a adorá-lo,
nem vacas a aquecê-lo,
mas que há-de ter
muitos Reis da Judeia a persegui-lo;
que não terá coroas de espinhos
mas coroa de baionetas
postas até ao fundo
do seu corpo.
Ninguém há-de contar a história do menino.
Ninguém lhe vai chamar o Salvador do Mundo.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Poema - José Alberto Oliveira

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A INOCÊNCIA tem um preço.
A maioria recusa pagá-lo.
Lá em cima, cortejando o sol, o milhafre vigia.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Poema - Aníbal Raposo

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AUSÊNCIA
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É estranho...
Quando deixas a ilha
Sinto os meus dias prenhes
Do imenso vazio da tua ausência

Resta o teu cheiro...
No quarto, na almofada da cama
Em cada canto da casa...

Confesso que nunca o sinto assim tão à flor da pele
No compasso
voraz do nosso dia-a-dia

Só então me apercebo
Como a usura do tempo
Traça, sem darmos conta, superfícies planas
Esbate, sem piedade, as vivas arestas
Da cor dos nossos sentimentos

Amo-te em fogo juvenil quando estás longe

Habituo-me a ti
Se estás por perto.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Aconteceu...dolorosa descida à terra

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Conheço-a há muito tempo. Anda quase sempre bem disposta, ri, fala, é frequentemente o centro da festa. A alegria e a vivacidade, com um humor mais para o eufórico, tudo são facilidades, dona de tudo, cheia de entusiasmo, numa roda viva que ocupam o tempo quase todo. Tanto, tanto, que quase cansa de estar com ela. Com uma pequena curiosidade, ela...nunca se cansa.
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Um dia parece que aterrou no chão, pés assentes na terra e a cabeça só pensava...que não tinha tantas razões para andar tão satisfeita, que a vida é difícil e o futuro preocupante, que há situações que nem sempre se dominam. As cores brilhantes que povoavam a sua cabeça mudaram, tudo era a preto e branco.
Ficou cabisbaixa, triste, sempre cansada. 
Adormecida entrava logo nuns sonhos tristes, em que não se vislumbrava uma saída para a história interna por ela inventada a dormir. Até os sonhos contribuíam para aumentar o desânimo.
Começou a isolar-se. Foi preciso pedir ajuda médica e psicológica.
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Eventualmente ambos os estados pertencem à mesma moeda. Mas quem não gosta mais da euforia que da tristeza?