domingo, 9 de outubro de 2011

Aconteceu...formato médio

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            Foto - Magda

sábado, 8 de outubro de 2011

Poema - Nuno Rocha Morais

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Deveria ser dado que morrêssemos
Com um amor ainda vivo em nós,
Como deveria ser dado a um pássaro
Morrer naturalmente em pleno voo.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Aconteceu...mas afinal quem é o adulto?

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Uma onda mais forte, e o puto foi enrolado. Não houve perigo, o pai estava lá, mas o miúdo, pequeno de uns 5 anos, braçadeiras coloridas nos braços, assustou-se e chorou.
Depressa o colo do pai o consolou e ambos continuaram o banho.
Até o pai decidir que já chegava, tinha de ir apanhar sol na areia seca. O pai, que a criança não estava pelos ajustes.
Junto às toalhas e à mãe que estava deitada a bronzear-se ouço o pai a proibir, ele a insistir, o pai a querer que ele brinque com o balde e a pá, a mãe a ajudar o pai, sem efeito. O miúdo desceu para a borda de água como se ninguém estivesse a dizer-lhe que não.
Foi então que ouvi o pai dizer-lhe com o seu sotaque brasileiro, olha vai, vai que eu não vou, e sabe que mais, se vire sozinho!
E assim foi.

Passado algum tempo a mãe vai ao banho e o rapaz aproveita a boleia, dando-lhe a mão e avançando um pouco mais pela água dentro.
Pouco depois saiem e sobem para a toalha, enquanto a mãe explica ao filho que a água está a puxar muito e que ela não pode continuar lá. O miúdo ouve-a e comenta para o pai "coitada da mamãe, ela tem medo, apanhou um sustão!"

E lá voltou ele para a água.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Poema - Manoel de Barros

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Idiotas de estradas gostam de urinar em morrinhos de
formigas.
Apreciam de ver as formigas correndo de
um canto para o outro, maluquinhas, sem calças, como
crianças.
Dizem eles que estão infantilizando as
formigas.
Pode ser.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

domingo, 2 de outubro de 2011

Aconteceu...lembrando Sidónio Muralha

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Pareceu-me ouvir um barulho, não não foi a campainha mas veio da porta. Tenho a certeza, segunda vez, lá está, parece um arranhar.
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Levanto-me, confesso com má vontade, estava tão bem no terraço a apanhar um banho de sol, dirigo-me à porta e abro-a. 
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À minha frente ninguém. Mas olhando para baixo, rente ao chão, lá está ele, preto, com o fato de gala com que anda normalmente, excluindo a camisa branca que nunca põe, mas com as abas da casaca impecavelmente no sítio. Dou um passo para trás e ponho-me em guarda, o que quer da minha casa, pergunto. Não me responde, mas avança. Fecho a porta com estrondo, assustada.
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Que fazer, agora que estou cá só? Ele continua à porta e arranhá-la. Volto a abri-la e sem que eu tenho tempo para dizer alguma coisa, eis que entra sala fora, arrogante, encostado à parede e a dirigir-se para os maples.
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Fico inquieta mas lúcida. A correr vou buscar uma vassoura, das de cabo comprido e tento vassourá-lo nas pernas para que saia.
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Parece que estou a conseguir. Atiro-o para as escadas. Nem quero pensar o que seria deixá-lo entrar, e ele a falar noite fora, com o eco esperado e quem sabe, escondido, para que eu não o possa encontrar nem conciliar o meu sono.
Caí de costas e desce desamparado mais um degrau.
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E então oiço-o gritar:
«Ó senhor, senhor que passa/ eu sou um grilo de raça/ não sou um grilo banal.»

sábado, 1 de outubro de 2011

Poema - António Aleixo

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NÃO DÊS ESMOLAS A SANTINHOS - MOTE

Não dês esmola a santinhos,
Se queres ser bom cidadão;
Dá antes aos pobrezinhos
Uma fatia de pão.

GLOSAS

Não dês, porque a padralhada
Pega nas tuas esmolinhas
E compra frangos e galinhas
Para comer de tomatada;
E os santos não provam nada,
Nem o cheiro, coitadinhos...
Os padres bebem bons vinhos
Por taças finas, bonitas...
Se elas são p'ra parasitas,
Não dês esmola a santinhos.

Missas não mandes dizer,
Nem lhes faças mais promessas
E nem mandes armar essas
Se um dia alguém te morrer.
Não dês nada que fazer
Ao padre e ao sacristão,
A ver para onde eles vão...
Trabalhar, não, com certeza.
Dá sempre esmola à pobreza
Se queres ser bom cidadão.

Tu não vês que aquela gente
Chega até a fingir que chora,
Afirmando o que ignora,
Assim descaradamente!?...
Arranjam voz comovente
Para jludir os parvinhos
E fazem-se muito mansinhos,
Que é o seu modo de mamar;
Portanto, o que lhe hás-de dar,
Dá antes aos pobrezinhos.

Lembra-te o que, à sexta-feira,
O sacristão — o mariola! —
Diz, quando pede a esmola:
«Isto é p'rà ajuda da cera»...
Já poucos caem na asneira,
Mas em tempos que lá vão,
Juntavam grande porção
De dinheiro, em prata e cobre,
E não davam a um pobre

Uma fatia de pão.