sábado, 30 de abril de 2011

Aconteceu...para não falar de coisas sérias


Ontem no Algarve, entrei num restaurante daqueles que têm a televisão aberta sem som quando passavam no telejornal imagens incríveis da minha cidade, ruas cobertas de manto branco gelado com meio metro de altura, carros afogados em rios gelados, pessoas a serem socorridas ao colo, imagens dantescas resultantes de "fenómenos naturais", como uma tempestade que se abate sobre a cidade e uma granizada monumental, que deixa Lisboa, na Primavera, irreconhecível.

Um acontecimento único, raro, que faz sair a minha cidade em todos os telejornais e eu, logo hoje, não estava lá.
.
Havia uma gelataria em Sesimbra, que tinha na parede uma fotografia da vila coberta pela neve. Por baixo a data. Naquela altura também nevou em Lisboa, mas eu era tão pequena que não me lembro.

Há poucos anos, estava eu na Costa da Caparica, e caíram uns flocos de neve que formaram um discreto manto branco nas ruas e jardins. Do outro lado do rio Tejo não caiu nenhum.
.
Vivi um ano na Beira Alta, onde neva quase todos os anos. Pois durante aquele tempo nunca nevou! Gelo, muito, não como ontem em Lisboa mas diariamente uma camada leve cobria tudo, tornando as estradas escorregadias e perigosas.

Aqui no Sul esteve muito agradável, com grandes abertas de sol e temperatura amena!

Isto hoje parece que estamos no elevador com um vizinho, como está, isto hoje está mais frio, palavras  para não se ficar calado.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Poema - Patrícia Baltazar

.
Em paisagens humanas importa-me distinguir a sede dos olhos que ainda procuram.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Aconteceu...hábitos tabágicos em pré adolescentes

.
No início da minha vida profissional, quase todos na equipa éramos fumadores. Fumava-se antes, durante  e depois das reuniões, fazendo com que o ambiente fosse semelhante a um dia de grande nevoeiro, baço e translúcido.
Havia médicos que fumavam durante as consultas, mesmo que o cliente fosse uma criança.
.
Nos anos 80, 90 e 2000, verifica-se uma diminuição de adultos fumadores, mas aumenta o tabagismo nos adultos jovens e também nas crianças pré adolescentes. Não temos estudos epidemiológicos em Portugal que nos forneçam dados, é mais um conhecimento por evidência.

Não ouvi ainda nenhum dos pré adolescentes ou um pouco mais velhos falarem-me  nos seus hábitos tabágicos com preocupação. A maior parte esconde, mas outros sentem nisso algum orgulho, forma de se afirmarem como crescidos, de serem aceites em certos grupos.

Este acessório postiço como forma de se afirmar para o exterior pode esconder nesses jovens uma fragilidade interna que fica menos acessível aos outros com algumas atitudes como esta.

O tabagismo precoce pode ser definido como o fumo de 10 e mais cigarros por dia.
Alguns podem iniciar-se cedo, tão cedo como aos 8 anos, em crianças sem famílias ou com famílias desorganizadas e que protegem pouco.

Não admira pois que, a par do consumo precoce  de cigarros, este  último grupo de  crianças apresentem frequentemente  outras dificuldades, como rendimento escolar deficitário, alterações de comportamento, absentismo escolar, podendo se deixados entregues a si próprios, vir a engrossar o número dos que acabam por abandonar a escola e outras situações que os colocam à margem da sociedade.   

A resolução deste problema não pode começar na consulta dos psicólogos ou pedopsiquiatras. É um problema social e quem tem acesso a estas crianças e famílias é quem com elas lida desde cedo, serviços instalados na comunidade, cuidados primários de saúde, serviços sociais, creches, escolas. Enviar aos serviços de especialidade médica anos depois dos quadros psicopatológicos instalados é como apagar o lume depois do leite entornado.  

terça-feira, 26 de abril de 2011

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Poema - Alberto de Lacerda

.
Juntos
.
O país que inventámos
Sem querer

domingo, 24 de abril de 2011

Aconteceu...O Compasso e a proximidade social

.
Hoje é domingo de Páscoa, e isso fez-me lembrar  mais uma história passada no Serviço Médico à Periferia (SMP), quando, logo no início da vida profissional, fui colocada numa vila do Norte de Portugal.

Toda a gente sabe o que é o Compasso, também conhecido pela visita Pascal? Talvez, quem tem educação religiosa ou mora em terras pequenas. Não é o meu caso e aqui em Lisboa não sei se ainda existe. Resistem, isso sei, tenho uma mesmo à porta, algumas procissões de tradição muito antiga, em alguns bairros populares.

Nos anos 80 não havia o Google, esta ferramenta que nos permite quase sem esforço saber um pouco de quase tudo. 


Pois o Compasso, é a visita que um grupo de pessoas lideradas pelo padre faz às casas/ famílias da sua paróquia, neste dia. Com ele vai a cruz de Cristo e vão informar da Ressurreição de Cristo  e abençoar as casas. É suposto haver alguma comida e bebida e ofertas para o padre...que acrescento eu, deve chegar ao fim do dia enfartado e bem bebido.

Pois lá na vila nortenha onde estávamos colocadas, a Lecas e eu, alguém nos avisou desse evento, como agora se diz, sem nos explicar grande coisa.
Ficamos bastante atrapalhadas. E agora, que se faz? O que se diz? Não conhecíamos ainda muita gente, nenhuma a quem perguntar.

E como jovens que éramos, resolvemos de uma maneira infantil de que hoje nos rimos.
Não é que fechámos as persianas simulando não haver ninguém e ficámos lá dentro muito quietinhas até a cerimónia passar para outra rua?!

Sei hoje que não teríamos sido visitadas quase de certeza. O Compasso não é uma invasão de uma casa, há um conhecimento prévio de quem deseja ser visitado.

Independentemente do acto enquanto religioso, este acontecimento é uma situação de proximidade, que contrasta com a indiferencia, o isolamento e o  desconhecimento da vizinhança nas grandes cidades.