quinta-feira, 7 de abril de 2011

Poema - Inês Lourenço

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CONSOANTES ÁTONAS

Emudecer o afe(c)to português
Amputar a consoante que anima
a vibração exa(c)ta
do abraço, a urgência

tá(c)til do beijo? Eu não nasci
nos Trópicos; preciso desta interna
consoante para iluminar a névoa
do meu dile(c)to norte.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Aconteceu...Triste espectáculo!


Há pouco dei por mim a pensar nos saltimbancos que apareciam na praia quando eu miúda.

O espectáculo era montado rapidamente sobre a areia. Um pano de cetim vermelho, brilhante, era posto no chão e serviria de palco. Simultaneamente, o batuque de um tambor ia chamando gente para o espectáculo começar. 
Por cima do pequeno espaço que o pano delimitava, e sempre ao som da mesma música, os vários elementos do grupo exibiam a sua arte, cambalhotas e contorcionismo.
Eram normalmente famílias, com adultos e crianças,  treinadas sabe-se lá com que sacrifícios.
Também traziam uma cabrinha, cujo número artístico era pôr-se e aguentar-se sem cair em cima do gargalo de uma garrafa, as quatro patinhas a caberem naquele espaço ínfimo.

Lembrei-me também dos artistas do teatro ambulante dos fantoches. Tal como os saltimbancos, também trabalhavam ao ar livre e sem poiso certo. Carregavam um biombo da altura de um adulto. Com ele montavam uma casinha de quatro faces, numa das quais existia uma janela que era a boca de cena.
Lá dentro, uma ou duas pessoas protegidas dos nossos olhares, manejavam  fantoches de madeira, bonecos pequenos vestidos de pessoas, que se batiam. O enredo era muito pobre, quase sem história. 
E uma voz fanhosa, do boneco mais forte para o mais fraco dizia ora toma, ora toma, enquanto eles se batiam até que um tombava, vencido.

No fim, com uma bandeja para recolher a paga, davam a volta pela assistência que ali se tinha junto, maioritariamente composta por crianças, que corriam juntos dos pais a pedir a moedinha.

Aos meus olhos de adulta, são imagens tristes.

Recordações como metáfora, pelo andar  errante da carruagem portuguesa?

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Poema - Cláudio Lima

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RECEITA
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Vidro, muito vidro
moído.
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Consumido
vagarosamente.
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A melhor dieta
para tornar o poeta
transparente.

domingo, 3 de abril de 2011

Aconteceu...erros, partidas, mentiras, enganos.

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No dia 1 de Abril tive imensa dificuldade em postar o poema do Gastão Cruz. Fiz várias tentativas e quando publicado aparecia sempre escrito em prosa. Usei vários métodos e desconfigurava sempre. Foi mais de uma hora, ou de duas até, para conseguir. Depois da meia noite lá ficou bem. Deverei pensar que era uma partida leia-se mentira, própria do dia? 
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"Exclusivo FNAC, compre o livro Victoria e receba um desconto de 50% na compra do livro Fome", pode-se ler em acrescento em papel impresso abraçado à capa do livro de Knut Hamsun, Prémio Nobel em 1920.
Aproveitei levar os dois.
Chegada à caixa para pagamento, verifico que a conta não apresenta o bónus. O empregado confirma e repete a operação, com igual resultado. Chamada a supervisora, ela tecla qualquer coisa, lá aparece o desconto de 8 € e ouço-a dizer em voz baixa ao caixa "estas situações temos de ser nós a fazer".
Há desconto? Há! E ele efectiva-se? Só se chamarem a supervisora!
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Parece que o dia das mentiras se prolongou. Ou isto já tem outro nome?
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Nota - Continuo com problemas por aqui, hoje é a letra que não tem o mesmo tamanho dos outros dias. Paciência, desisto, vai ficar assim até...

sábado, 2 de abril de 2011

Aconteceu...Da terra nasci e na terra me vou incorporar

..........................................Foto - Magda

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Poema - Gastão Cruz

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RELATÓRIO EM FORMA FECHADA

Os estragos da noite foram vastos,
inversos ao pulsar da primavera:
há tempo em que se luta pelos gastos
rastos da vida e o tempo novo gera

desilusão somente, esse viscoso
correr da insónia como se já água
as lágrimas não fossem e no fosso
há pouco aberto qualquer outra água

de natureza opaca suspendesse
a sua interminável queda; voltas
por fim à noite espessa que já tece
a madrugada com as linhas soltas

da minha vida, versos que transformam
em realidade as sílabas que os formam