terça-feira, 6 de julho de 2010

Poema - Matilde Rosa Araújo

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Mãe,
que verdade linda
o nascer encerra.
Eu nasci de ti,
como a flor da terra.

Poema - Sophia de Mello Breyner Andresen

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As amoras
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O meu país sabe as amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Aconteceu...Exposição de escultura "Negreiros e Guaranis" em Loulé

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Duas peças: as de baixo arte duas peças de arte primitiva africana da colecção de José de Guimarães; as de cima esculturas de José de Guimarães: homem e mulher.
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Exposição em Loulé, no Palácio da Fonte da Pipa.
É interessante ver a influência da arte africana no trabalho de José de Guimarães. Tem peças muito bonitas.
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O Palácio da Pipa, normalmente fechado, é privado, à espera que a Câmara autorize uma urbanização o que felizmente parece, já por duas vezes foi chumbado o projecto. O palácio merece uma visita assim como os jardins.
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Fotos - Magda


domingo, 4 de julho de 2010

Aconteceu...Quem dá e tira (não paga) ao inferno vai parar?

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Há tempos convidaram-me para moderar uma mesa num encontro sobre problemática respeitante às crianças e adolescentes. Para além de moderar também me pediram para apresentar um trabalho. Aceitei de bom grado. Era no Algarve. Avisaram-me que a autarquia me pagaria a dormida e a deslocação. Quanto a honorários informei não pretender pagamento pelo trabalho.
Foi um dia de trabalho interessante e produtivo.
Quando chegou a altura de me pagarem a viagem, confrontei-me com o facto de me pedirem um recibo verde no valor da gasolina e as portagens, que o carro da deslocação era o meu. Não tenho vida liberal e como tal não tenho recibos verdes. Tenho até um contrato de exclusividade com o estado. Expliquei e solicitei outra solução. Nem me parecia que fosse esta a maneira adequada. Depois de uma troca de 2 mails e uma vez que vi que não ia haver solução, redigi um mail um pouco irónico oferecendo ao não-pagador o dinheiro da deslocação.
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Li num jornal que ao fotógrafo Paulo Nozolino tinha sido atribuído o Prémio 2009 para as Artes Visuais pelo Estado. Já depois da cerimónia de entrega, foi informado que lhe iriam transferir o valor depois de deduzido o IRS, assim como mais uma série de outras condições como "que preenchesse uma nota de honorários e exigido que apresentasse certidões da situação contributiva, para a Segurança Social, e tributária, junto das Finanças" sem as quais não haveria transferência.
Chamou-lhe má fé, recusou o prémio e exigiu mesmo "não constar do historial dos premiados".
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Há coisas que considero estranhas e irritantes.
Aceito que estamos em contenção, que as verbas têm de ser muito bem geridas, o que nem sempre é evidente aos olhos do leigo que vê. Mas há que ponderar o que se oferece porque quem dá e tira (não dá) ao inferno vai parar.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Poema - Alexandre O ´Neill

CHAVAL

Entre o Bem e o Mal
cresce a borbulha na cara do chaval.

O chaval ainda não sabe
que a barba,bem ou mal
feita, é uma banalidade matinal.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Aconteceu...que hoje esteve um dia muito bom para estar de folga

Um psiquiatra americano fez uma investigação interessante, na segunda metade do século XX. Formulou como hipótese a provar que certas doenças mentais, nomeadamente a psicose, eram potêncialmente "contagiosas".
Numa casa residência de doentes mentais portadores de psicose, vários técnicos foram viver para lá, isolados do exterior durante um certo tempo.
Com regularidade iam fazendo relatórios-relatos da vida da casa. Os primeiros eram cheios de observações de comportamentos bizarros e descrições compatíveis com o esperado. Mas, e isso é o curioso, conforme o tempo ia passando, as observações relatadas eram cada vez com menos observações de coisas estranhas e quase tudo era vivido como uma terna "normalidade".
De certa maneira a hipótese foi provada. No fundo já se "sabia", que a psicose não só é invasora do próprio, como invade quem com ela convive sem outros modelos. Não que se fique com a doença, mas com uma adaptação a outras formas de funcionamento em deterimento do mais habitual.
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Talvez por isso dizia-se e se calhar ainda há quem pense que os psiquiatras são todos um bocado passados. O ditado aligeira e diz que de médico e de louco todos temos um pouco.
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Não trabalhando só com psicóticos, longe disse felizmente para todos, nos serviços pedopsiquiatria trabalhamos todo o dia com pessoas que nos procuram com os problemas dos seus filhos, de crianças sem pais , as suas dificuldades, angústias, seus comportamentos desajustados.
Ouvimos, falamos, relacionamos para procurar entender, ajudar o outro a perceber as suas dificuldades e a intervir conforme as necessidades e as possibilidades.
Certos dias trazemos na cabeça, ou no coração, as frases, o sofrimento que é vivido junto de nós. Acrescido de nem sempre temos os recursos necessários e necessitamos de, caso a caso, "inventar" soluções.
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Hoje tive um dia de descanso, que me soube muito bem. Foi o recarregar a bateria para amanhã continuar.