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sábado, 5 de fevereiro de 2011

Aconteceu...que também em saúde mental, a prevenção começa na infância

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Nunca mais o vi. Há quase quarenta anos ouvia-o falar dos infantários como "mata putos". Riamo-nos mas sabíamos que havia alguma verdade naquela denominação.
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Na altura havia poucos, muito menos que hoje, que continuam a ser insuficientes.
Uma família a quem nasce uma criança tem nas mãos um grande problema, conciliar o retomar do trabalho com o descobrir onde deixar o bebé.
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A nível estatal, só há equipamentos para a infância a partir dos três anos de idade. Mesmo assim muitas só arranjarão vaga aos cinco, já para a pré primária.
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Quando percebemos que uma criança não está suficientemente estimulada, ou em meio organizado, é com relatórios médicos que por vezes se consegue uma vaga. Claro que estou a falar de quem tem o dinheiro contado, e vive com dificuldade até ao fim do mês. Para os outros, a situação é diferente, é mais uma questão de escolha.
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As amas de organizações formadoras e controladoras como a Misericórdia são insuficientes. Cada vez há menos avós disponíveis, a 3ª geração também trabalha. Restam umas primas desempregadas, umas vizinhas que dão um jeito, e umas amas free-lancers. Muitas são pessoas que gostam do que fazem, repetem com as crianças o que já fizeram com os seus próprios filhos, na melhor das boas vontades. Ficarão para algumas crianças uma referência de quem se lembram e procuram durante muitos anos.
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Mas, e tal como ontem deu que falar, com o encerramento dum infantário fantasma, ilegal, há as que tratam mal as crianças, não as estimula, não cantam, não brincam, não lhes falam o suficiente, as fecham em casa e mais grave, lhes dão medicamentos para que durmam e estejam quietinhas.
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Os três primeiros anos de vida são, em termos psicológicos, talvez os mais importantes. Nele se dão os maiores movimentos de crescimento psicológico, que serão depois as fundações para o desenvolvimento futuro.
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Dar medicamentos para pôr crianças a dormir, impedindo-as de se relacionarem com quem com elas está, de serem estimuladas e ajudadas a crescer, é um crime. A notícia foca que o medicamento que a ama selvagem dava era nocivo para os rins. Talvez, mas mata ou distorce o desenvolvimento psicológico da criança e isso é fatal também.
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Há que criar condições condignas para que as famílias possam trabalhar e simultaneamente dar o melhor substituto na sua ausência aos seus filhos. Pode-se discutir que condições serão, pequenas creches, amas com formação, etc.
Não é só querer fomentar a natalidade. Há que dar condições para isso e para o depois. Também compete ao estado. O estado tem de criar condições adequadas e condignas!
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As crianças de hoje serão os adultos de amanhã. Uma criança com deficiente desenvolvimento, para além da sua própria infelicidade e dos seus pais, custará muito mais dinheiro ao país que uma criança saudável.
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A prevenção a todos os níveis do desenvolvimento começa na infância.
Está na hora, e já vai tarde!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Aconteceu...que hoje esteve um dia muito bom para estar de folga

Um psiquiatra americano fez uma investigação interessante, na segunda metade do século XX. Formulou como hipótese a provar que certas doenças mentais, nomeadamente a psicose, eram potêncialmente "contagiosas".
Numa casa residência de doentes mentais portadores de psicose, vários técnicos foram viver para lá, isolados do exterior durante um certo tempo.
Com regularidade iam fazendo relatórios-relatos da vida da casa. Os primeiros eram cheios de observações de comportamentos bizarros e descrições compatíveis com o esperado. Mas, e isso é o curioso, conforme o tempo ia passando, as observações relatadas eram cada vez com menos observações de coisas estranhas e quase tudo era vivido como uma terna "normalidade".
De certa maneira a hipótese foi provada. No fundo já se "sabia", que a psicose não só é invasora do próprio, como invade quem com ela convive sem outros modelos. Não que se fique com a doença, mas com uma adaptação a outras formas de funcionamento em deterimento do mais habitual.
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Talvez por isso dizia-se e se calhar ainda há quem pense que os psiquiatras são todos um bocado passados. O ditado aligeira e diz que de médico e de louco todos temos um pouco.
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Não trabalhando só com psicóticos, longe disse felizmente para todos, nos serviços pedopsiquiatria trabalhamos todo o dia com pessoas que nos procuram com os problemas dos seus filhos, de crianças sem pais , as suas dificuldades, angústias, seus comportamentos desajustados.
Ouvimos, falamos, relacionamos para procurar entender, ajudar o outro a perceber as suas dificuldades e a intervir conforme as necessidades e as possibilidades.
Certos dias trazemos na cabeça, ou no coração, as frases, o sofrimento que é vivido junto de nós. Acrescido de nem sempre temos os recursos necessários e necessitamos de, caso a caso, "inventar" soluções.
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Hoje tive um dia de descanso, que me soube muito bem. Foi o recarregar a bateria para amanhã continuar.