sábado, 17 de março de 2012

Poema - Ana Luísa Amaral

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GATO EM APONTAMENTO QUASE BARROCO E DE MANHÃ DE SÁBADO

Gentilmente curvado sobre a flor,
Percorre devagar nervura e centro.
E em tantos delicados argumentos
Vai avançando lentamente as folhas.

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A cabeça pondera e repondera
Defronte a haste fácil, rente a terra,
E uma pedra minúscula e serena
Sobe no ar, acesa como fera.

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Não conhece os segredos do soneto,
Sendo de ofício muito ignorado
A sua arte. E em curto minuete:

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Uma garra afiada em pé de valsa,
Um dente a desdenhar a flor e a folha
E a cravar-se, feroz, na minha salsa.