quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Aconteceu...carta ao Manuel com poema de Manuel Bandeira

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Sim, também eu vou partir...para Passárgada? Não! Partir o  pé? Salvo seja, mas foi quase em frente da  estátua do Carlos, mesmo ali num banco do calçadão de Copacabana que o parti há dois anos, não, não tive culpa, não me distraíu embora tenha pensado nos seus poemas, em Minas a sua terra natal, olhar a casa onde morou do outro lado da rua, mas foi só um sapato com uma borracha demasiado aderente, ou que aderiu naquele momento sabe-se lá porquê. Para me prender aí? Difícil, muito difícil, a minha vida é aqui, o meu País com letra grande, pobre País da forma que está, mas já começa a morder as palmas das mãos a quem sente. Olha Manuel, amanhã já, vou revisitar-te.  Inté, como  vocês dizem.


Manuel Bandeira
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo incosenquente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente d
a nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei um burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’agua
Pra me contar as histórias
Que no tempo de seu menino
Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não de não ter jeito
Quando de noite me der

Vontade de me matar
– Lá sou amigo do rei –
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

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