segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Poema - Helder Moura Pereira

.
Cheguei a ter medo de te perder,
Tu não chegaste a ter medo.
Este silêncio de já não termos palavras
Ouve-se nas outras palavras que trocamos.
.
Miserável mundo nosso e alheio,
Igual ao que todos disseram da sua época,
E pior, porque este vivemos nós
E conhecemos nós, cada um conforme pode.
.
Já morreram os ídolos da infância
E os da adolescência vão a caminho,
Sobrevivente é o teu olhar cego
(hoje já só há um dos Righteous Brothers).
.
Na feira de velharias uma caixa
Para tabaco com uma rosa verde.
Tem o preço ainda em escudos, uma falha
Num dos cantos, uma pequena cruz de cal.
.
Permaneces aí, à lareira, lendo livros vivos
E o seu turbilhão de palavras profundas.
Nunca mais chega o medo de nos perdermos,
Eco um do outro em ricochete de silêncio.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Convido a comentar quando lhe apetecer.