sábado, 4 de dezembro de 2010

Aconteceu...Há quem tenha os pais unidos pela raiva

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Desde cedo que se acostumou a ver os pais discutirem. Eu disse acostumou? Disse mal, devia ter dito ouviu, porque nunca isso se tornou para ele como uma coisa normal.
Insultos, gritos dos pais, e ele a gritar, com as mãos a tapar as orelhas e a pedir que parassem, deixassem de gritar, mas sem que eles o ouvissem.
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Alguns anos mais tarde, ainda ele era pequeno, ouviu uma nova discussão e viu o pai passar por ele, bater com a porta e não voltar nesse dia a casa. Nem no outro, nem no outro... até que a mãe lhe começou a dizer que tinha sido bom, que o pai era muito mau e assim podiam os dois viver sós e felizes.
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E todos os dias lhe lembrava que o pai era mau. Mas ele também se lembrava de jogar à bola com ele, comer algodão doce lá na feira da aldeia, e até armar costelas para apanhar os pássaros. E tinha saudades de estar com o pai...
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Um dia soube que o pai o queria também, para viver com ele. E nova guerra se desencadeou, aqui com Tribunal à mistura. E passou a estar em casa da mãe umas semanas e em casa do pai noutras.
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Era um verdadeiro calvário quando tinha de trocar de casa, um interrogatório completo lhe era feito, tanto pelo pai como pela mãe. E críticas, críticas, críticas. A certa altura sentia-se confuso. Serão para mim? pensava. Como fugir disto, tão pouco crescido que era?
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Muitas crianças vivem esta vida. A raiva que a separação e por vezes nem a constituição de uma nova família deixa de existir entre os pais. Pais unidos pela raiva.
Este ambiente cerca as crianças e destroí-as. Sofrem.
Mergulhados neste caldo raivoso, os pais nem se apercebem como estão a destruir os filhos, a inquinar-lhes a existência actual e a futura.

1 comentário:

  1. Nem todas as paredes dos edifícios são construídas de muito bons materiais. Por isso há os condomínios fechados,as vivendas, os palácios e castelos. de que muralhas todos seremos construídos. Num convento em que trabalhei e que vivi, onde as as paredes eram de meio metro e cheias de grandes fósseis marítimos pensava sempre nos 400 anos do que por lá se tinha passado de angustias e sofrimentos!? Do que seremos feitos e constítuidos senão dessas tormentas? E aquele livro « A nossa necessidade de consolo é impossível de satifazer»? Conta-me quem é feliz? Conta-me da arquitectura das paredes dos vidros e dos telhados...do chão, do pavimento e das viagens dos vivos e dos mortos...Se não é a entrada da porta que está mal é a saída? São as janelas e é o prédio que nos tapou a vista para o rio e para o mar.
    A complexidade do Ser e Ser-se não será igual ao mundo inteiro? Por tudo e tanto que o queiramos mudar? Tanto e nada para dizer do que também tenho assistido ouvido, lido e pensado...

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