segunda-feira, 19 de julho de 2010

Acontece...que com as novas experiências se cresce

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Custa-me sempre ouvir uma mãe ou um pai dizer que superprotegem os filhos. Normalmente isto é dito com sinal positivo, mas eu faço a leitura contrária.
Muitas vezes são crianças limitadas na exploração do mundo, de experiências.
Com rotinas pouco ou nada criativas.
Os pais devem de alguma maneira "tomar conta" do mundo que é explorado, saber onde, quando, com quem, e depois ajudar a criar o prazer da novidade, dando alguma liberdade controlada.
As crianças só enriquecem com isso.
Lembro-me de pais que não deixam as filhas ir a casa de colegas "porque podem ser abusadas sexualmente". Ora nós sabemos que a maior parte dos abusos é intra familiar, ou de pessoas muito próximas, professores, amigos dos pais. São medos que são limitativos do desenvolvimento social.
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Estou na minha primeira etapa das minhas férias.
Numa quinta no centro do país, estou a fazer, pela "enésima" vez, um curso de joalharia. Já aqui disse que tem trabalha intelectualmente e sobretudo com as dificuldades psicológicas ou mesmo com a doença mental, tem de ter escapes diversificados. Este é um dos meus.

Mas esta minha conversa de hoje sobre novas experiências, tem a ver com o facto de neste curso, onde somos 8 (numero máximo aceite), ser composto por um austríaco, uma finlandesa, uma francesa, uma holandesa e os restantes são portugueses. Ao almoço falou-se português e inglês, sobretudo, porque curiosamente os estrangeiros querem aprender português. Falamos das nossas profissões, da nossas terras. Tirando os professores, nenhum de nós transformou até hoje este hobby em profissão.
Enquanto grupo, estamos a conhecermo-nos.
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Na mesa redonda ao lado, um grupo também diversificado de crianças com as nacionalidades dos adultos mais uns suiços cujos pais vieram deixar-los uma semana para que tenham outras experiências. Idades entre os 5 e os 9 anos. Com eles estão animadores sociais e os donos da quinta que são de uma qualidade afectiva e artística rara.
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Crianças e adultos que se conhecem, novos hábitos, novas comidas, novos relacionamentos, para alguns a primeira experiência de dormir fora de casa.
Estamos já disse, numa quinta, onde há uma imensidade de coisas com as quais as crianças da cidade não convivem habitualmente, e que vão conhecer/viver/compreender. Brincar com poucos brinquedos, sem electrónica, mas com muita criatividade.
Nos intervalos, há sempre a hipótese de um mergulho na piscina, que, com o calor que está, sabe muito bem.
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Estes miúdos e os graúdos nos quais me enquadro, vamos todos sair mais ricos.
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Coitadas das crianças que só podem experimentar o que já é conhecido! Que grande desprotecção!

2 comentários:

  1. Boa noite :)
    E eu acabadinho de sair da última fase das minhas férias, em que aproveitei precisamente para experimentar coisas novas, nomeadamente, viajar para sítios que não conhecia. A rotina é organizadora e dá segurança, mas em excesso, atrofia!
    E hoje, no metro a caminho de casa após a urgência, reparava numa mulher, na casa dos trintas, que viajava com o seu filhote de 8-9 anos, sentados à minha frente. Terço azul no pulso, 2 sacos enormes aos pés, anelar esquerdo sem ausência de pigmentação circular. A mesma mão em que se lia "Fátima" numa cruz pousava insistente e nervosamente na coxa do seu menino, ausentando-se momentaneamente e a medo apenas para ajeitar, de forma automática, os óculos de sol que seguravam o cabelo. Rapidamente voltava para o seu colo e o tacteava, assegurando-se "Estás aqui..." o menino, de olhar triste e pouco expressivo, cedo demonstrou que o seu potencial cognitivo atrasara-se no tempo. A medo, balbuciou: "Xegámux, exa é a extaxão", e logo foi repreendido negativamente, não é nada, tá calado. Voltou para o seu silêncio. Agarrou-se mais à mãe, imitou-lhe o tique dos óculos, mas desarrumando-os...gesto logo corrigido pelas reparadoras mãos maternas. Já perto de onde saía, tentou bruscamente pôr-se em pé no banco, parecendo querer tocar algo que (só ele) vira no vidro, mas a sua exploração não durou mais que um ralhete e um puxão de volta ao seu lugar. E a mão voltou ao seu colo: "Não saias, não fujas..."
    E eu tive pena desta mãe, provavelmente só, criando um menino que parece débil, pedindo a Nossa Senhora por uma vida melhor...e tive pena deste menino, que nesta viagem, não pode explorar e experimentar nada mais que a mão protectora de sempre...
    Boas férias Dra. Magda! Um beijinho.

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  2. Pois é Dabar, quer queiramos quer não, esta profissão cola-se à pele e observamos mesmo fora do trabalho.
    As férias estão a ser óptimas, obrigada.
    E para ti...bom trabalho e boas bicicletadas!

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